Especialmente durante as décadas de 1960 e 70, difundiu-se na América Latina um tipo de literatura que combinou o realismo com elementos fantásticos em alegorias sobre o contexto socioeconômico da região. Aqueles tempos de ditadura exigiam formas sutis de denunciar as arbitrariedades em curso. Meio século depois, a atualidade do realismo mágico motivou o grupo paulista Folias d'Arte a compor o espetáculo Solidão, em cartaz nesta quarta (17) e quinta (18) no Teatro Renascença, dentro da programação do 12º Festival Palco Giratório Sesc/POA.
Com direção de Marco Antonio Rodrigues e dramaturgia de Sérgio Roveri, a montagem conta com um elenco de 12 integrantes, encabeçados por Aílton Graça (que se prepara para viver, no cinema, Mussum de Os Trapalhões). Por meio de uma dramaturgia "estilhaçada", na definição do diretor, semelhante à atmosfera de um sonho, Solidão leva à cena diferentes gerações de uma família em um vilarejo que recebe um misterioso cigano. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, é uma fonte importante desde o título do espetáculo, mas não se trata de uma adaptação, como explica Rodrigues:
– O livro é uma grande fonte, mas o que fizemos foi uma recriação. Também nos inspiramos em materiais da música, do folclore, do circo. Nem sei dizer de onde vem cada elemento.
Observando o panorama latino-americano na atualidade, o encenador acredita que é oportuno retornar aos grandes criadores do século 20. Em sua perspectiva, a região experimenta um retrocesso similar ao de 50 anos atrás:
– Voltamos ao neocolonialismo, à dependência de grandes metrópoles internacionais e à influência do capital financeiro.
Recuperando referências como Vargas Llosa e Jorge Luis Borges, entre outros que serviram de inspiração, a montagem representa uma reação, segundo o diretor:
– A literatura fantástica se refere a formas populares de como rir de si mesmo. É um certo não se levar a sério para, paradoxalmente, levar-se a sério. Talvez seja o diferencial da nossa cultura.
SOLIDÃO
Nesta quarta-feira (17) e quinta-feira (18) , às 20h. Duração: 120 minutos. Recomendação: 14 anos.
Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), fone (51) 3289-8066.
Ingressos: R$ 10 (comerciários e dependentes com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários e dependentes com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (inteira).
À venda no Sesc Centro (Alberto Bins, 665), das 8h às 19h45min, e até às 15h para a sessão do dia. Se houver disponibilidade, venda no teatro, uma hora antes do início.