Eles parecem a trupe de circo mambembe mais feliz de Porto Alegre. Assim que começam a se encontrar para mais uma sessão de ensaio aberto, os sete organizadores do Bloco da Laje se cumprimentam aos berros e abraços. Eles formam uma espécie de núcleo duro (ainda que a expressão tenha pouco a ver com o clima de descontração geral) do bloco de Carnaval independente que costuma invadir as ruas da Capital quando se avizinham os verões porto-alegrenses.
Da garagem na qual guardam instrumentos, geradores e estandartes na Avenida Cauduro, os carnavalescos amadores, já pintados e fardados de amarelo, azul e vermelho (as cores do bloco), percorrem os poucos metros que os separam do Parque da Redenção e rumam em direção ao local que se acostumaram a ocupar nas manhãs de domingo. Lá, vão se transformar em centenas, talvez milhares, de loucos que pulam e brincam Carnaval em pleno novembro.
Leia mais:
Do terreiro ao estrangeiro, o samba completa cem anos de história
10 sambas inesquecíveis para celebrar o centenário do gênero
Todos os anos, a partir de outubro, o Bloco de Laje dá início à temporada de ensaios abertos na Redenção. Formado em 2012 por amigos que atuavam em áreas como comunicação, música e teatro – e que se encontravam em uma laje para fazer churrasco antes de pular os Carnavais da Cidade Baixa –, o grupo transformou os eventos em tradição de fim de ano. Eles funcionam como uma preparação para a saída do bloco no Carnaval de rua de Porto Alegre, que no ano que vem está prevista para 29 de janeiro. Em 2017, pela segunda vez consecutiva, o grupo vai financiar colaborativamente quase todo o seu Carnaval – um projeto de crowdfunding no site Catarse (acesse aqui), com prazo para terminar nesta segunda-feira, já arrecadou quase R$ 22 mil, valor já superior à meta estabelecida.
– É muito interessante que as doações continuem até segunda-feira para manter o bloco funcionando durante todo o ano, quando parte do coletivo segue trabalhando, ensaiando. Temos outros custos, como o local para guardar os instrumentos. Cada ajuda será importante até o último minuto – explica um dos organizadores do grupo, Thiago Lazeri.
Momentos após a chegada do bloco (junto com o vira-lata Tibum, mascote da trupe), no domingo passado, já com estandartes pendurados nas árvores, banquinhas de vendas montadas e instrumentos afinados, começam a chegar os outros membros do bloco. Àqueles sete integrantes do início – que têm responsabilidades que vão desde criar o conceito estético do grupo e decidir seu repertório até carregar tambores nas costas –, unem-se outros tantos instrumentistas, amadores e profissionais, "brincantes", "cantantes" e simpatizantes ou curiosos espectadores atraídos pela folia. Há gente de todas as idades e perfis sociais, famílias inteiras, um homem só de sunga e chapéu de pescador, uma senhora com roupa de cigana carregando um case de bumbo, um Jesus estilizado que mais tarde será crucificado no meio do povo – um dos tradicionais ritos que o grupo promove em suas saídas. No Bloco da Laje cabe tudo:
– Isso é lindo – diz, aos sorrisos, a organizadora Júlia Rodrigues, uma das mais empolgadas brincantes do Bloco da Laje: – A ideia sempre foi que cada um chegasse com o tinha, seja com instrumento, ainda que a maioria dos nossos amigos, assim como eu mesma, não toque nada, esteja aqui só para dançar, ou curtir. Com o tempo, começamos a ver que era muito forte o desejo das pessoas de se encontrar, de tocar, de conviver. Tudo acontece de uma maneira orgânica e muito surpreendente.
Quem quiser colaborar com o Bloco da Laje pode fazê-lo pelo link. Neste domingo, o ensaio aberto está confirmado. Os foliões fora de época podem se juntar à trupe a partir das 10h, nos arredores do Recanto Europeu (apelidado pelo grupo de Recanto Afrikano), no Parque da Redenção.