– Ninguém nasce Cássia Eller impunemente – aponta o ator Marcelo Saback em entrevista para o documentário Cássia (2015).
Em seu depoimento, Saback ressalta que a cantora brilhava em musicais no começo de carreira e que, "naturalmente, alçaria voos maiores". No entanto, a trajetória da artista foi interrompida abruptamente no auge. Ela morreu aos 39 anos, em 2001, vítima de infarto, mas seu talento seguiu reverberando – seja em discos póstumos (como Do lado do avesso, de 2012, e O espírito do som, 2015) ou em influência para novos nomes da MPB (como Filipe Catto e Maria Gadú). Uma amostra desse talento é mimetizada no espetáculo Cássia Eller – O musical, que será apresentado em quatro sessões no Theatro São Pedro.
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Em cartaz entre sexta-feira e domingo, a montagem repassa a vida da artista da adolescência à morte, guiada por 39 canções – a exemplo de Malandragem e O segundo sol.
– O espetáculo fala sobre sua trajetória musical e pessoal, abordando o encontro com Nando Reis, seus romances, como ela e sua companheira Maria Eugênia se conheceram, além de mostrar como sua carreira começou – explica a atriz porto-alegrense Thainá Gallo, intérprete da percussionista Lan Lan e de Moema, a primeira namorada de Cássia.
Com trilha sonora conduzida por cinco músicos, o espetáculo reúne no palco sete atores, que se revezam em diversos papéis. A protagonista é a atriz e cantora curitibana Tacy de Campos, selecionada após um processo que reuniu mais de mil intérpretes.
– Encontraram um vídeo meu na internet e me chamaram para fazer o teste – relata Tacy. – Eu nunca havia feito teatro. Não era atriz. No começo, foi meio intuitivo. Com o tempo, conheci alguns amigos da Cássia que diziam “pô, a Cássia era diferente”. Acabei sendo direcionada para não ficar uma coisa destoante do que ela seria – complementa a intérprete, que prepara o lançamento de seu primeiro disco para o ano que vem.
Com direção de João Fonseca e Vinícius Arneiro, idealização de Gustavo Nunes e texto de Patrícia Andrade, a montagem já passou por todas as capitais brasileiras, tendo sido assistida por mais de 100 mil pessoas – Porto Alegre é o ponto de encerramento da turnê nacional. Thainá observa uma característica do público em todos os locais: a saudade.
– Uma coisa é certa: Cássia é amada, a gente percebe isso por onde quer que passe. Ela tem um público muito fiel. Como morreu no auge, todos ficaram querendo mais.
CÁSSIA ELLER, O MUSICAL
Amanhã (às 21h), sábado (17h e 21h) e domingo (18h). Duração: 130 minutos. Classificação: 14 anos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº).
Ingressos: de R$ 50 a R$ 100, à venda na bilheteria do teatro e em compreingressos.com.br.
O espetáculo: trata-se de um musical que conta a trajetória da cantora. No palco, a atriz Tacy de Campos canta 39 canções de seu repertório.
VIDA LOUCA E BREVE - A TRAJETÓRIA DE CÁSSIA ELLER
1 - Filha de um militar paraquedista, Cássia Rejane Eller nasceu no Rio de Janeiro, em 10 de dezembro 1962. O nome foi sugerido pela avó, devota de Santa Rita de Cássia. Viveu em diversas cidades até se fixar em Brasília, aos 18 anos. Quando morou em Belo Horizonte, Cássia trabalhou como servente de pedreiro. “Fiz massa e assentei tijolos”, descreveu, certa vez.
2 - Cássia participou de um musical de Oswaldo Montenegro, tocou em trio elétrico, cantou em ópera como corista e tocou surdo em um grupo de samba. Entrou para o folclore a história contada pela cantora segundo a qual tratou de suavizar sua voz ao ouvir do filho que “não cantava, e sim berrava”.
3 - Eleita pela revista Rolling Stone a 18ª maior voz da música brasileira, gravou seu primeiro disco em 1990. O primeiro sucesso foi sua versão de Por enquanto, de Renato Russo. Também ficou conhecida pelas interpretações de Malandragem, Segundo sol, Palavras ao vento, Relicário, entre outras.
4 - Uma das músicas mais queridas pelos seus fãs, Malandragem foi gravada por Cássia em 1994. A canção havia sido composta por Cazuza e Frejat anos antes para Angela Rô Rô. Como esta não quis gravá-la, a faixa foi entregue a Cássia. O auge veio em 2001, ano de sua morte, quando saiu consagrada do Rock in Rio 3 e lançou o Acústico MTV, seu maior sucesso comercial, que somou mais de 1 milhão de discos vendidos no Brasil.
5 - Morreu de infarto aos 39 anos, em 29 de dezembro daquele ano. Sua companheira durante 14 anos foi Maria Eugênia Vieira. Ela ficou com a guarda do filho Francisco, o Chicão, que segue os passos da mãe: em 2015, lançou o álbum de estreia de sua banda 2x0 Vargem Alta. No mesmo ano, o elogiado documentário Cássia, de Paulo Henrique Fontenelle, passou a limpo sua trajetória.