A nova coreografia que o Grupo Corpo traz a Porto Alegre, dois anos depois de sua mais recente passagem pela Capital, tem a memória incrustada da forma mais palpável possível: a cenografia de Dança sinfônica conta com 1.080 fotos de todos os profissionais que trabalharam na companhia em seus 40 anos de história, completados em 2015. São bailarinos, técnicos, empresários e assim por diante.
– Estamos vivos por causa dessas pessoas – diz o coreógrafo Rodrigo Pederneiras, que assinou quase todos os espetáculos.
Essa trajetória longeva – surpreendente na realidade incerta da cultura nacional e suas dificuldades de financiamento – estará representada, acima de tudo, nos movimentos dos bailarinos. Dança sinfônica é um verdadeiro olhar para trás: cada gesto evoca as principais coreografias já criadas pelo Grupo Corpo, inclusive algumas que não estão mais no repertório, assim como ideias de coreografias que acabaram não sendo aproveitadas (o que Pederneiras costuma chamar de "ovelhas negras", lembrando o título de um livro de Caio Fernando Abreu).
Para marcar as quatro décadas, a companhia optou por se cercar de conterrâneos mineiros. A trilha original é de Marco Antônio Guimarães, do sempre inovador grupo Uakti – a mais frequente parceria musical do Corpo, aqui em sua quinta colaboração. Como é habitual, o compositor teve liberdade para criar o que quisesse a partir do zero. O único pedido foi que compusesse peças para serem gravadas pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, hoje uma das principais do país. O Uakti também gravou alguns segmentos, e, assim, as passagens foram costuradas.
Como também é costume nas apresentações do Grupo Corpo, as sessões terão um programa duplo, incluindo uma coreografia do passado. A escolhida foi Parabelo (1997), homenagem à cultura nordestina, com trilha de Tom Zé e José Miguel Wisnik que inclui baião, xaxado e forró. Embora o coreógrafo às vezes revise trabalhos antigos ao revisitá-los, Parabelo será apresentado no formato original. O objetivo é provocar um "contraponto" com Dança sinfônica, afirma Pederneiras:
– Dança sinfônica é mais solene, enquanto Parabelo é terra total, trata do Brasil.
Rodrigo Pederneiras: "A barra está pesada para todo mundo no sentido financeiro"
Leia entrevista com o coreógrafo do Grupo Corpo:
Como você analisa o atual momento da dança contemporânea no Brasil?
Há muita gente muito boa, tanto que hoje temos um público enorme para a dança contemporânea. Podemos ver (a coreógrafa) Lia Rodrigues. Adoro citar o Alejandro Ahmed, que tem um trabalho fascinante no (grupo) Cena 11. Tem o (Henrique) Rodovalho (da Cia. Quasar), a Deborah (Colker). Agora, a barra está pesada para todo mundo no sentido financeiro. Não é fácil manter companhias como as dessas pessoas.
As companhias estão circulando bem no Exterior?
Acho que circulam muito pouco. O Grupo Corpo tem um público garantido nas grandes cidades. Em Nova York, nos apresentamos há mais de 10 anos na Brooklyn Academy. Não é qualquer companhia que entra lá. A Deborah (Colker) também viaja muito, mas são praticamente apenas essas duas companhias. As outras viajam pouco. É uma viagem internacional a cada dois anos.
Como avalia as companhias brasileiras do ponto de vista do rigor técnico?
Seria importante que os bailarinos tivessem uma técnica clássica: saber girar, saber saltar. A maioria dos coreógrafos não exige isso na dança contemporânea. No sentido do que você chamou de rigor técnico, deixa a desejar, inclusive no que diz respeito a montagens. Vale o rigor técnico para todas as áreas: iluminação, apresentação da cena. Tudo isso compõe o espetáculo, e não apenas bons bailarinos ou bons coreógrafos.
GRUPO CORPO – “DANÇA SINFÔNICA” E “PARABELO”
Sábado (25/6), às 21h, e domingo (26/6), às 19h.
Teatro do Sesi (Avenida Assis Brasil, 8.787), fone (51) 3347-8787, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 70 (mezanino). Os demais setores estão esgotados para ambos os dias.
Venda antecipada sem taxa: bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Tulio de Rose, 80). Venda antecipada com taxa: site ingressorapido.com.br e call center 4003-1212. Caso haja disponibilidade, os ingressos também serão vendidos no Teatro do Sesi nos dias das sessões, duas horas antes do início.