O longa-metragem Sem Coração fará sua estreia mundial no 80º Festival Internacional de Cinema de Veneza 2023, que será realizado entre 30 de agosto e 9 de setembro. O filme é uma coprodução entre Brasil, França e Itália, com roteiro e direção de Nara Normande e Tião e conta com a produção de Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho (Bacurau e Aquarius) pela Cinemascópio, além de Justin Pechberty, Damien Megherbi (Les Valseurs), Nadia Trevisan, Alberto Fasulo (Itália) e coproduzido e distribuído pela Vitrine Filmes.
A obra faz parte da seleção oficial da mostra competitiva Orizzonti. A trama acompanha Tamara (Maya de Vicq), uma adolescente que mora em uma vila pesqueira em Alagoas e aproveita as últimas semanas do verão de 1996 antes de se mudar para Brasília, onde vai estudar. Ela ouve falar de uma outra menina, cujo apelido é "Sem Coração" (Eduarda Samara) por conta de uma cicatriz que ela tem no peito. Tamara passa a se sentir atraída pela misteriosa garota.
A diretora Nara Normande comentou a relação das personagens principais com a própria trajetória.
"A jornada da protagonista Tamara é inspirada em algumas memórias da minha infância e adolescência passadas no litoral alagoano, lugar onde cresci e de grande inspiração para meus trabalhos. Alagoas é um Estado pouco retratado no cinema brasileiro, um Estado com muitas camadas, onde a beleza contrasta com as complexidades políticas e sociais", declarou em material à imprensa.
A dupla de cineastas já havia produzido um curta-metragem de mesmo nome. O longa foi filmado no litoral de Alagoas entre setembro e outubro de 2022. A finalização da obra foi feita no Brasil, na Itália e na França.
Tião comemorou que o filme foi selecionado para o festival e refletiu sobre os atributos da produção.
"Fico muito feliz com a seleção de Sem Coração em Veneza", iniciou. "Poder apresentar esse trabalho em um lugar que foi a origem de todos os festivais é especial. O filme tem temas universais e elementos bem locais que falam sobre a complexidade do nosso país, de lugares muito bonitos e ao mesmo tempo violentos, enquanto acompanhamos as jornadas de alguns adolescentes e suas transformações em um verão que vai ficar pra sempre em suas vidas".
O festival ainda irá exibir o documentário The Outpost, uma coprodução Brasil e Itália, na mostra Giornate degli Autori, também conhecida como Venice Days. O longa acompanha o fundador de uma ONG italiana que trabalha para proteger comunidades indígenas na Amazônia e busca promover um show da banda Pink Floyd na floresta para chamar atenção para as dificuldades no local.
Polêmica no festival
A programação do evento se tornou alvo de polêmica nos últimos dias por conta da inclusão de obras de três cineastas acusados de abuso sexual: Roman Polanski (The Palace), Woody Allen (Coup de Chance) e Luc Besson (Dogman). O diretor de programação do Festival de Veneza, Alberto Barbera, no entanto, afirmou à revista Variety que não vê "onde está o problema".
"Luc Besson recentemente foi inocentado de todas as acusações. Woody Allen passou pelo escrutínio legal duas vezes no final dos anos 1990 e foi absolvido", afirmou ele. "No caso de Polanski, é paradoxal. Passaram-se 60 anos. Polanski admitiu sua responsabilidade. Ele pediu o perdão da vítima e o recebeu. A vítima pediu para que a questão fosse superada. Acho que continuar batendo no Polanski significa procurar por um bode expiatório para outras situações que merecem mais atenção".
Por fim, Barbera concluiu: "Estou do lado daqueles que dizem que você deve distinguir as responsabilidades do indivíduo do artista".