O Festival de Cinema de Gramado começou a rodar mais um capítulo de sua história — no caso, o 51º. Na manhã desta terça-feira (4), a organização do tradicional evento anunciou, no Palácio dos Festivais, os filmes que irão compor as mostras competitivas da edição deste ano. E, dos mais de mil títulos inscritos, as curadorias e comissões de seleção escolheram seis longas-metragens brasileiros, cinco longas-metragens documentais e cinco longas-metragens gaúchos que buscarão os Kikitos, além de 23 curtas-metragens gaúchos que vão disputar o prêmio da Assembleia Legislativa do RS.
Marcos Santuario, curador do festival, trabalhou ao lado da atriz argentina Soledad Villamil e do ator e diretor Caio Blat na seleção dos filmes brasileiros e documentários — a diversidade e o ineditismo foram os fios condutores para a seleção. Enquanto isso, o programador Leonardo Bonfim foi o encarregado da curadoria dos longas gaúchos, ao lado de Mônica Kanitz.
Todos os seis longas brasileiros selecionados terão première mundial em Gramado, mostrando as visões de realizadores e realizadoras das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste — e elas transitam entre os gêneros thriller, drama, ficção, biografias e documentários. Os títulos serão exibidos presencialmente, entre os dias 12 e 18 de agosto, no Palácio dos Festivais. E, na noite do dia 19, serão revelados os vencedores dos Kikitos.
— Foi um trabalho bem difícil, a gente foi bem criterioso, como sempre. As parcerias do Caio e da Soledad foram geniais, para a gente manter o nível cinematográfico, artístico que este festival merece ter e sempre preza por ter, desde o seu início — enfatizou Santuario, destacando a questão do ineditismo e da diversidade para a seleção. — A gente quis incluir o maior número possível de olhares sobre este Brasil, tão diverso e tão rico ao mesmo tempo.
Entre os destaques, está um documentário sobre o cronista Luis Fernando Verissimo, que tem direção de Luzimar Stricher, bem como o longa-metragem Mussum, o Filmis, que tem Ailton Graça como protagonista, dando vida ao eterno trapalhão. Também estará presente na programação um título que retoma a trajetória de Ângela Diniz, que coloca Isis Valverde na pele da socialite brasileira que foi assassinada em 1976.
Ao total, serão entregues 38 Kikitos — 11 a menos que no ano passado, devido aos cortes orçamentários, que levaram ao cancelamento da mostra de filmes íbero-americanos —, além das tradicionais homenagens com os Troféus Oscarito, Eduardo Abelin, Kikito de Cristal e Cidade de Gramado. Em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), o Festival de Gramado concederá, ainda, três Prêmios Novas Façanhas e o Troféu Leonardo Machado. Novidade deste ano, o Troféu Sirmar Antunes será entregue em parceria com a Assembleia Legislativa.
Homenagens e estreias
O Festival de Cinema de Gramado, neste ano, entregará o Troféu Oscarito, pela primeira vez, a duas mulheres que fizeram história no audiovisual brasileiro: as atrizes Laura Cardoso e Léa Garcia. Enquanto a primeira, aos 95 anos, é uma das artistas mais premiadas do país — e a que mais estrelou telenovelas, totalizando mais de 80 trabalhos na televisão —, a segunda, com 90 anos, já faturou quatro Kikitos, com Filhas do Vento, Hoje tem Ragu e Acalanto — em seu currículo, mais de cem produções, incluindo cinema, teatro e televisão e uma indicação ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1957, por Orfeu Negro. Laura e Léa se juntam à Alice Braga, que foi anunciada em maio como homenageada deste ano com o Kikito de Cristal.
— Deu coincidência de que esse ano são homenageadas mulheres. A gente começa com o Oscarito, com a Laura Cardoso e a Léa Garcia, no ano em que a TV completa 75 anos. São duas atrizes reconhecidíssimas no universo do audiovisual, também no cinema. E aí a gente pensou que era o momento de também homenageá-las em vida, já que as duas são quase centenárias, mas continuam atuantes. No caso da Alice Braga, que recebe o Kikito de Cristal, é algo para mostrar esse universo jovem, inovador, forte, que dialoga com o mundo. Então, merecidíssimas homenagens para essas fortes mulheres potentes do cinema e do audiovisual brasileiro — explica Santuario.
Expandindo o seu alcance dentro do universo audiovisual, pela primeira vez em sua história, o evento terá uma série como atração. A escolhida foi Cangaço Novo, original do Amazon Prime Video e que estreia em 18 de agosto. Criada por Eduardo Melo e Mariana Bardan, a atração conta com oito episódios e tem direção de Aly Muritiba e Fábio Mendonça, além de Allan Souza Lima como protagonista. A produção terá exibição em sessão especial, fora de competição, no dia 14 de agosto, no Palácio dos Festivais.
Já o documentário Retratos Fantasmas, quinto longa-metragem do cineasta e roteirista Kleber Mendonça Filho, terá sua estreia no Brasil na abertura do 51º Festival de Cinema de Gramado. Após apresentar seus últimos filmes, O Som ao Redor, Aquarius e Bacurau em Gramado, o diretor retorna com seu documentário que foi fruto de sete anos de trabalho e pesquisa, filmagens e montagem. O longa-metragem terá única exibição na noite de abertura, em 12 de agosto, fora de competição. Na próxima terça-feira (11), faltando um mês para o começo do festival, haverá um evento no Rio de Janeiro, onde serão anunciados as homenageadas com os troféus Eduardo Abelin e Cidade de Gramado, além dos curtas-metragens brasileiros selecionados.
51º Festival de Cinema de Gramado - filmes selecionados:
Longas-metragens brasileiros:
- Angela, de Hugo Prata
- Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry
- Mussum, o Filmis, de Silvio Guindane
- O Barulho da Noite, de Eva Pereira
- Tia Virgínia, de Fabio Meira
- Uma Família Feliz, de José Eduardo Belmonte
Longas-metragens documentais:
- Anhangabaú, de Lufe Bollini
- Da Porta Pra Fora, de Thiago Foresti
- Luis Fernando Verissimo – O Filme, de Luzimar Stricher
- Memórias da Chuva, de Wolney Oliveira
- Roberto Farias – Memórias de um Cineasta, de Marise Farias
Longas-metragens gaúchos:
- Céu Aberto, de Elisa Pessoa
- Hamlet, de Zeca Brito
- O Acidente, de Bruno Carboni
- Sobreviventes do Pampa, de Rogério Rodrigues
- Um Certo Cinema Gaúcho de Porto Alegre, de Boca Migotto
Curtas-metragens gaúchos:
- Messi, de Henrique Lahude e Camila Acosta
- Fitoterapia, de Eduardo Piotroski
- Glênio, de Luiz Alberto Cassol
- Tremendo Trovão, de Rubens Fabricio Anzolin
- Fiar o Vento, de Mari Moraga
- Os Féders Vão Dormir, de Eder Ramos
- Flora, de Ana Moura
- Colapso Terra em Chamas, de Lucas Tergolina e Matheus Melchionna
- Concha de Água Doce, de Lau Azevedo e João Pires
- Livra-me, de Felipe da Fonseca Peroni
- Carcinização, de Denis Souza
- O Tempo, de Ellen Correa
- Restaurante, de Leonardo da Rosa
- Nau, de Renata de Lélis
- Eu Tibano, de Diego Tafarel e Zé Corrêa
- Combustão Espontânea, de João Werlang e Pedro Bournoukian
- Concorso Internazionale, de Bruno de Oliveira
- Sabão Líquido, de Fernanda Reis e Gabriel Faccini
- Meu Nome é Leco, de Diana Mesquita e Marina Falkembach
- Aurora, de Bruna Ueno
- Centenária da Minha Bisa, de Cristyelen Ambrozio
- Rasgão, de Victor Di Marco e Márcio Picoli
- As Ondas, de Leandro Engelke e Richard Tavares