Tal qual uma extensa franquia cinematográfica, o Cine Victoria vai ganhar uma nova continuação — será a quinta estreia em sua história de 83 anos. O espaço localizado na Avenida Borges de Medeiros, 441, no Centro Histórico de Porto Alegre, que estava fechado desde 2018, reabre as suas portas nesta quinta-feira (20), sob novo comando, o do Cult Cinemas, procurando dar a sua contribuição para a nostálgica tradição das históricas salas de calçada.
A sua estreia ocorreu em 1940, ainda sob o nome de Cine Teatro Vera Cruz — com o nome do prédio que o abriga. Na época, exibiu um dos clássicos de Frank Capra, A Mulher Faz o Homem (1939), que conta a fábula de um homem que vai perdendo a sua inocência ao deparar com os bastidores do poder.
Já nesta nova inauguração, o filme escolhido para iniciar os trabalhos é Barbie (2023), de Greta Gerwig, que busca, através da famosa boneca — que sequer existia na época da inauguração do cinema —, tentar explicar o que significa ser mulher, também colocando o holofote no choque da utopia com o mundo real.
Nesta nova fase do espaço, que se chamará Cine Victoria by Cult Cinemas, em um primeiro momento, apenas uma das duas salas será aberta — a maior, com capacidade para 190 pessoas, com acessibilidade para cadeirantes, pessoas com dificuldade de locomoção, obesos e deficientes visuais e auditivos. No local, serão ofertados ingressos com preços populares, sendo R$ 20 reais a inteira e R$ 10 a meia. Na programação, o foco serão os blockbusters.
— Apesar do nome ser Cult Cinemas, a ideia é colocar na programação filmes mais populares — diz a sócia Diulia Rauber, 27 anos, de Porto Alegre.
Ela vai comandar de perto o novo Cine Victoria, enquanto Cristiane Brandolt, 35, ficará responsável pela parte mais administrativa e da programação, coordenando tudo remotamente, de Alegrete, onde vive. Por lá, inclusive, a Cult Cinemas tem uma unidade, bem como em Ijuí — houve uma também em Cruz Alta, mas fechou durante a pandemia. Todas idealizadas como cinemas de calçada.
— Eu prefiro os cinemas de calçada. O acesso é mais fácil e tem a questão nostálgica. Não descarto abrir unidades em shoppings, mas sempre que puder optar, vai ser cinema de calçada. Tem um charme diferenciado, clássico, antigão. Por isso, inclusive, mantivemos a decoração aqui — detalha Cristiane.
A segunda sala do Cine Victoria, um pouco menor, com capacidade para 150 pessoas, ainda está inutilizada, mas deverá passar por uma reforma e, em até seis meses, começará a operar, aumentando o leque de ofertas de filmes. Como diferencial, a sala inaugurada nesta quinta, que terá um período de teste para conhecer o seu público, ofertará sessões de manhã, a partir das 9h30min, de quinta-feira a sábado. Também terá a opção ao meio-dia, todos os dias da semana.
— Para dar alternativa para quem trabalha no Centro e quer utilizar o seu intervalo de almoço para ver um filminho — explica Cristiane, reforçando que, nos domingos, haverá apenas duas sessões, na parte da tarde, pelo pouco movimento na região neste dia.
Negócio
Para colocar o espaço em funcionamento, a Cult Cinemas fez parceria com o Edifício Vera Cruz, proprietário da marca Cine Victoria. Assim, passou a administrar o local sem pagar pelo nome. A empresa ainda conseguiu uma carência de seis meses de aluguel, dando tempo para conseguir equilibrar as finanças — as sócias contam que o orçamento do projeto estourou a previsão de R$ 200 mil e deve estar encostando nos R$ 300 mil. E tudo isso em 45 dias, em uma verdadeira maratona.
O local ganhou nova identidade visual e letreiros luminosos tanto na entrada da Avenida Borges de Medeiros quanto na da Rua 24 Horas. O projetor digital é um que já pertencia à rede e era utilizado em Cruz Alta e dá conta de uma sala de pequeno porte. Segundo Cristiane, a qualidade do equipamento equivale à das redes de cinema instaladas em shoppings, possibilitando, inclusive, sessões em 3D. O sistema de som é o Dolby 7.1.
Além disso, vários outros detalhes foram trabalhados, como carpete e piso, para deixar o espaço mais moderno — as poltronas, porém, foram mantidas por enquanto, uma vez que são confortáveis e atendem bem à demanda. A bombonière foi toda construída para esta nova empreitada e, atualmente, ocupa uma loja da galeria onde o cinema está. Lá, duas máquinas de pipoca vão oferecer o alimento-símbolo de uma boa sessão. Serão quatro funcionários atuando no espaço, além de Cristiane e Diulia.
Sendo o terceiro local em pleno funcionamento da Cult Cinemas, as sócias não querem parar por aí. Com recursos que esperam conquistar da Lei Paulo Gustavo, pretendem ampliar a rede para outras cidades do Estado — Alvorada e São Borja estão no radar para receber salas e, assim, terem os seus próprios cinemas.
— Larguei a carreira na Engenharia Metalúrgica para me dedicar a isso. Me apaixonei. E, ao contrário do que as pessoas pensam, é um mercado lucrativo — celebra Cristiane, empolgada com a sua nova empreitada que é, literalmente, de cinema.