Nos últimos anos, uma espécie de novo gênero cinematográfico vem tomando conta de Hollywood: são as legacy sequels. Mas, afinal, o que é isso? De maneira simplificada, essas "sequências de legado" são realizadas, geralmente, décadas após o filme original e continuam aquela história, mesclando novidades com revisitas ao passado.
Essas continuações trazem de volta atores e personagens do longa original ou, então, introduz novos artistas, dando vida a uma versão diferente dos personagens clássicos. E, com isso, o espectador é envolto em uma nostalgia ao recordar daquela obra que fez parte de seu passado, ao mesmo tempo em que a história avança por novos caminhos.
Essas produções, em sua maioria, caem no gosto do público, que lota as salas para reencontrar suas adoradas franquias, que estavam adormecidas, mas não esquecidas. A consequência é, geralmente, sucesso de bilheteria. Não por acaso, estas continuações se tornaram as "queridinhas do momento" dos estúdios e dos produtores de Hollywood.
Abaixo, GZH lista algumas das legacy sequels que deram muito certo e provaram que revisitar o passado, mas com uma nova abordagem, é uma receita de sucesso.
Creed: Nascido Para Lutar (2015)
Sylvester Stallone construiu um dos mais icônicos personagens do cinema, o seu Rocky Balboa — e é construir mesmo, já que é do astro o roteiro do primeiro filme. A saga do lutador de boxe se estendeu por cinco filmes, de 1976 até 1990, com Rocky V, que parecia ter enterrado a franquia. Ele ainda retornou ao personagem em 2006, com o sensível e bem realizado revival da saga Rocky Balboa, dando um fim muito digno ao Garanhão Italiano.
Porém, em 2015, o cineasta Ryan Coogler teve a ideia de trazer o veterano lutador de volta, mas deixando o protagonismo para se tornar um mentor em Creed: Nascido Para Lutar. No filme, Rocky passa a treinar Adonis (Michael B. Jordan), o filho de Apollo Creed, seu amigo do passado, enquanto enfrenta um câncer. Pela obra, Stallone foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante, empilhando elogios. O longa ainda foi um sucesso de bilheteria e ganhou uma continuação em 2018. Outra deve sair ainda neste ano, mas, desta vez, sem a volta de Sly.
Mad Max: Estrada da Fúria (2015)
Iniciada em 1979, a franquia Mad Max foi estrelada por Mel Gibson em seus três primeiros filmes, com a trilogia tendo fim em 1985, com Além da Cúpula do Trovão. Trinta anos depois, George Miller, diretor e roteirista, decidiu revisitar a sua obra, entregando Mad Max: Estrada da Fúria, que é uma mistura de reboot com continuação da saga de Max, mas com Gibson sendo substituído por Tom Hardy no papel principal. O filme, que foi aclamado pela crítica especializada, passou o rodo no Oscar de 2016, levando para casa nada menos do que seis estatuetas, além de ser considerado como um dos melhores longas de ação do século 21.
A produção, filmada em 2012 no Deserto da Namíbia, que se estende entre o norte da África do Sul até Angola, contou com inúmeros efeitos práticos e o seu realismo, assim como a sua paisagem de desolação, deram todo o clima de desespero e insanidade que a história precisava. Deu muito certo. E um novo longa da franquia já está sendo rodado, desta vez colocando o foco na personagem Furiosa, vivida por Charlize Theron em Estrada da Fúria, mas que, agora, será interpretada por Anya Taylor-Joy. A previsão de estreia é 2023.
Matrix Resurrections (2021)
Este dividiu a audiência e acabou não saindo vitorioso das bilheterias, mas o quarto capítulo da franquia Matrix tem muito valor. E o principal é: ser uma sequência anti-sequência. Quase 20 anos depois de Matrix Revolutions (2003), Lana Wachowski retorna à franquia — sem a irmã Lilly desta vez — para entregar uma crítica ao modus operandi de Hollywood, que suga as franquias até esgotar elas e coloca os criadores contra a parede. Inclusive, no filme, que é recheado de metalinguagem, Neo (Keanu Reeves) é um criador de games e o seu grande sucesso é a trilogia Matrix.
Sem querer voltar a trabalhar na saga, é dito para ele que o estúdio vai fazer uma sequência com ou sem os idealizadores do projeto e, por isso, é melhor que os criadores embarquem no trabalho do que entregar para outras pessoas. Apesar do quarto título não ter as sequências de ação revolucionárias que Matrix (1999) teve, ele consegue se destacar por sua história cheia de humor e alfinetadas à indústria do entretenimento. E como não foi tão bem recebido pelo público, principalmente por sua intencional mensagem clichê de que o amor vence qualquer coisa, o filme deve ter enterrado as chances de um novo capítulo de Matrix no cinema. O que, aparentemente, era bem a ideia de Lana.
Blade Runner 2049 (2017)
Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), à época de seu lançamento, não foi um grande sucesso. O filme recebeu diversas críticas ruins e desapontou nas bilheterias. Porém, com o tempo, a história foi mudando e, hoje, ele é uma das ficções científicas mais importantes e influentes de todos os tempos. Trinta e cinco anos depois, o filme encontrou com as legacy sequels a sua continuação: Blade Runner 2049.
O visionário Ridley Scott saiu e quem assumiu o comando do longa foi o também visionário Denis Villeneuve, que trouxe Ryan Gosling para ser o seu protagonista, em uma jornada belíssima e que segue questionando o que significa ser humano. A estrela do primeiro filme, Harrison Ford, retorna para a continuação, com um papel menor, mas não menos importante, em uma narrativa imersiva e muito bem construída. O filme pode até não ter agradado a todos, mas é uma continuação que honra com louvor o seu antecessor.
Top Gun: Maverick (2022)
O mais — merecidamente — badalado exemplo de como as legacy sequels estão com tudo é Top Gun: Maverick. Trazendo Tom Cruise de volta ao papel que o alçou ao patamar de astro 36 anos depois, o filme não apenas conseguiu respeitar e honrar o que foi feito no longa original, mas ainda realizou a incrível manobra de superar — com sobras — a produção de 1986. No novo filme, Pete "Maverick" Mitchell (Cruise) ainda é um capitão e tem a tarefa de treinar um grupo de pilotos da Top Gun para uma missão quase suicida — incluindo Rooster (Miles Teller), o filho de seu ex-ala Goose, que morreu no primeiro longa.
Sob o comando de Joseph Kosinski, Maverick aposta em resgatar o visual estabelecido por Tony Scott no filme oitentista e, também, em trazer realismo para as telas, fugindo do atual momento de Hollywood, que substitui tudo o que pode por efeitos visuais. Assim, os atores realmente subiram em aviões de combate de verdade e entregaram cenas de tirar o fôlego. Mas, além das brilhantes cenas de ação, o novo Top Gun ainda consegue ser surpreendentemente emocional, conectando o passado e o presente de maneira primorosa e se aprofundando em um bem-sucedido estudo de personagem. Entregando um dos grandes filmes da década, Tom Cruise vai muito bem em sua missão de salvar o cinema.
Outros exemplos
Outras tantas "sequências de legado" tomaram conta dos cinemas nos últimos anos. Tron: O Legado (2010), Star Wars: O Despertar da Força (2015), Halloween (2018), O Retorno de Mary Poppins (2018), Bad Boys Para Sempre (2020), Ghostbusters: Mais Além (2021), Jumanji: Bem-vindo à Selva (2017) e Doutor Sono (2018) foram, também, exemplos bem-sucedidos. Porém, outros não conseguiram fisgar o público e/ou a crítica, como O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (2019), Independence Day: O Ressurgimento (2016), Space Jam: Um Novo Legado (2021) e Jurassic World: Domínio (2022).