Um Lugar Silencioso: Parte II mal chegou aos cinemas e já está dando o que falar. Seguindo os passos da família Abott em sua luta para sobreviver à invasão alienígena assistida no primeiro longa da franquia, e com a dificuldade extra trazida pela morte de Lee (John Krasinski), o filme introduz um novo e importante personagem à trama.
Essa introdução, porém, pode fazer com que a história da continuação pareça bastante familiar para alguns espectadores: em linhas gerais, a narrativa principal de Um Lugar Silencioso: Parte II é a mesma de The Last of Us, o jogo de videogame mais premiado da história do nicho.
No primeiro longa do terror ficcional, lançado em 2018, já era possível perceber algumas semelhanças. Tanto no filme quanto no jogo, este último lançado em 2013, humanos precisam sobreviver a seres que têm por instinto transformar pessoas em alimento (alienígenas no caso do cinema e uma espécie de zumbis infectados por um fungo no enredo do jogo). Em ambos, ainda, o silêncio é aliado da sobrevivência: no filme, os monstros são atraídos pelo barulho; no game, ruídos e tiroteios despertam a atenção dos infectados.
Em Um Lugar Silencioso: Parte II, a similaridade fica ainda mais clara. Com a morte de Lee, Emmett (Cillian Murphy), um velho conhecido da família Abott, acaba entrando na história e fazendo as vezes de "pai" de Regan (Millicent Simmonds). Ou seja, o que vemos é uma jovem garota e um homem mais velho que mantêm laços fraternais, tentando sobreviver juntos em um mundo pós-apocalíptico repleto de monstros que não gostam nem um pouco de barulho. E este é exatamente o mesmo enredo que guia as aventuras de um jogador de The Last of Us.
Sucesso da Naughty Dog, o game segue Joel, um homem mais velho e cheio de traumas que perdeu quase tudo o que amava quando a infecção que transforma as pessoas em zumbis se espalhou. Em sua batalha para sobreviver, ele conhece uma adolescente chamada Ellie, que pode ser a chave para a cura da humanidade — do mesmo modo que Regan, que descobriu o ponto fraco dos alienígenas no primeiro filme. Com ela, traça as estratégias para manterem-se longe dos infectados enquanto, embora desesperançoso, projeta um futuro livre de zumbis que o querem devorar.
Apesar das semelhanças, não é possível afirmar que John Krasinski, diretor, roteirista e intérprete de Lee no primeiro filme (também eternizado como Jim da sitcom The Office), tenha mesmo sentado para jogar The Last of Us antes de começar a pensar em uma sequência para o longa que estrelou ao lado da esposa, Emily Blunt (Evelyn Abott). O diretor, inclusive, revelou que não planejava dar continuidade à trama — mesmo que o final tenha deixado o espectador com a sensação de que havia mais por vir.
— Foi muita pressão fazer o segundo filme porque antes de ser ator, diretor e roteirista, sou espectador. Sendo assim, fico meio ressabiado com certas sequências. Muitas parecem apenas sem sentido, ou uma forma de ganhar dinheiro — disse Krasinski em coletiva de imprensa.
Além de Um Lugar Silencioso
Tenha Krasinski se inspirado no jogo ou não, Um Lugar Silencioso: Parte II não é a primeira produção cinematográfica a causar déjà vu nos jogadores de The Last of Us: Logan também contou uma história semelhante em 2017, com mais uma dupla remetendo ao game. No filme solo do X-Men, vimos um Wolverine (Hugh Jackman) mais velho e um tanto quanto rabugento em sua missão de manter segura a pequena X-23 (Dafne Keen).
Com tanto sucesso em torno de The Last of Us, não seria estranho que o cinema colocasse na panela alguns ingredientes da receita que transformou o jogo no mais premiado da história — são mais de 250 títulos de "melhor" conquistados, incluindo premiações como o BAFTA Video Game Award de Melhor Jogo e Melhor História. O que pode, sim, soar um pouco estranho é lembrar que o jogo já tem uma adaptação encaminhada: vai virar série pela HBO, com Pedro Pascal (Narcos, Game of Thrones e The Mandalorian) como Joel e Bella Ramsey (Game of Thrones) interpretando Ellie.
A série ainda não teve sua data de estreia confirmada, mas a pergunta que não quer calar é: como fazer com que a narrativa do videogame, apesar de original, não pareça uma cópia do que já foi visto em filmes que acabaram largando na frente? Para saber, só mesmo esperando pela estreia — e quem sabe assistindo a Um Lugar Silencioso: Parte II, em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (22) após diversos adiamentos causados pela pandemia.