A 71ª edição do Festival de Berlim estreou em formato virtual nesta segunda-feira (1º). A programação está concentrada em cinco dias, já que a produção espera conseguir realizar uma segunda parte com tapete vermelho e aberta ao público em junho. Entre as novidades, também está o fato de que esta é a primeira vez que o evento concederá um prêmio de interpretação "sem gênero", em vez dos prêmios de melhor ator e atriz — o primeiro entre as principais competições internacionais.
O longa brasileiro A Última Floresta, de Luiz Bolognesi, integra a mostra Panorama. Com roteiro co-assinado por Bolognesi e o líder ianomâmi Davi Kopenawa Yanomami, o filme relata o dia a dia de um grupo de indígenas ianomâmi, etnia que vive há séculos entre o norte do Brasil e o sul da Venezuela.
No total, 15 longas-metragens concorrem ao Urso de Ouro, que será anunciado na sexta-feira (5). Entre eles, há apenas um em espanhol: Una película de policiais, do mexicano Alonso Ruizpalacios.
Abrindo a série de exibições reservadas a profissionais e imprensa estava o filme libanês Memory Box, da dupla de diretores e artistas Joana Hadjithomas e Jalil Joreige. Esta é a primeira obra do país selecionado na competição em 40 anos. A trama mergulha na memória de uma família sobre a diáspora daquele país para Montreal, no Canadá.
A produção de Hadjithomas e Joreige — que em 2017 receberam o prêmio de arte Marcel Duchamp — poderia não ter saído, já que as filmagens terminaram pouco antes da explosão em 4 de agosto de 2020 no porto de Beirute, que deixou mais de 200 mortos e 6,5 mil feridos e destruiu bairros inteiros da capital libanesa. Seu apartamento, a sede da produtora e boa parte de suas obras também foram afetados pela explosão.
O casal explicou por videoconferência à AFP que fez o filme sobre memória e esquecimento em parte "com a ideia de transmitir o passado" de seu país à filha, instalada em Londres.
— No Líbano, temos a sensação de não compartilhar uma história comum — disse Hadjithomas.
De sua casa em Paris, a diretora também admitiu que fazer filmes durante a pandemia gera "grande frustração".
— De alguma forma, a covid-19 ajudou o filme. Conseguimos trabalhar mais, ver as coisas em perspectiva e às vezes mudá-las — apontou.
Um robô no jogo do amor
Também foi exibido o novo trabalho da alemã Maria Schrader — diretora da série Unorthodox —, sobre um robô que quer vencer os humanos no jogo do amor. I'm Your Man (Eu Sou seu Homem, em tradução livre) é estrelado por Dan Stevens, estrela de Downton Abbey, no papel do robô.
Stevens, britânico, fala bem alemão para representar o robô Tom, um Romeu projetado para conquistar o coração de Alma, uma pesquisadora de antiguidades (Maren Eggert). Schrader afirmou em uma entrevista coletiva que queria evitar os aspectos "perigosos" dessas histórias de Frankenstein.
— O que Tom quer saber é como fazer Alma feliz — acrescentou.
Volta do mexicano Ruizpalacios
O primeiro grande festival do ano na Europa foi reduzido de 10 para cinco dias, mas pretende-se realizar uma segunda parte aberta em junho em Berlim, principalmente com exibições ao ar livre e a cerimônia de entrega de prêmios.
Com Una película de policías, da Netflix, Ruizpalacios volta à principal categoria do Berlinale, três anos depois de Museo, com o qual ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Destacam-se também os longas Petite Maman, da francesa Céline Sciamma (responsável por Retrato de uma Jovem em Chamas), e a estreia na direção do ator hispânico-alemão Daniel Brühl (de Adeus, Lenin!).
O romeno Radu Jude volta à competição com Bad Luck Banging or Looney Porn sobre uma professora filmada em uma "sextape", que viraliza na internet.