Os dilemas de Rue Bennett, em Euphoria, já foram a prova de que Zendaya consegue defender papéis intensos. Premiada com o Emmy de melhor atriz, a norte-americana agora testa seus limites em Malcolm & Marie, lançamento desta sexta-feira (5) na Netflix. O filme coloca a atriz para viver dramas ainda mais pesados – e mais adultos – em um trabalho dirigido por Sam Levinson (de Bastidores de um Casamento).
Logo no início, a sensação é de que Zendaya e John David Washington (de Infiltrado na Klan e Tenet) atuam em um teatro filmado. Um plano-sequência de longa duração já entrega uma das qualidades do filme, produzido em preto e branco: diálogos afiados, explorando o melhor dos dois atores. Todo o longa se passa em uma casa, com a dupla caminhando por cômodos e pelo jardim.
Washington vive Malcolm, um jovem cineasta que está em êxtase. Ele e sua namorada, Marie (Zendaya), retornam da sessão de pré-estreia de seu novo filme. O diretor está animado após ter recebido elogios dos críticos na saída e decide celebrar: serve um drinque e faz questão de colocar James Brown no volume máximo. Marie, por sua vez, está braba por ter sido ignorada pelo amado nos agradecimentos finais.
Esse é apenas o ponto de partida. Em uma hora e quarenta minutos, o casal explora assuntos que vão do relacionamento a antigos traumas familiares. Quando o espectador se dá conta, o filme já está quase no fim, pois a química de Washington e Zendaya carrega a produção com maestria.
Outro aspecto que deve chamar a atenção é que as histórias de vida de Rue Bennett e de Marie se aproximam em alguns pontos. Seria um crossover de obras? Quase isso. Afinal, Levinson é nada menos do que o criador e o diretor de Euphoria, seriado que consagrou a personagem de Zendaya.
Pandemia
Como Malcolm & Marie gira em torno dos dois protagonistas debatendo sobre a vida, a sensação é de que se trata de uma sessão de terapia. Malcolm, por exemplo, expressa toda a sua raiva por um crítico do Los Angeles Times, mesmo que o texto tenha sido positivo. A impressão é de que o roteiro acompanha os dilemas da pandemia. Milhões ficaram trancados em casa e colocaram (ou não) o psicológico no lugar.
Um crítico da revista Variety observou que o longa é uma prova de como é possível fazer muito com pouco. "Por mais desconfortável que seja assistir a uma briga de casal, há algo incrivelmente comovente em um cineasta obrigado a dedicar um filme inteiro para reconhecer que não poderia fazer isso sozinho. E bastaram dois atores, uma pequena equipe e uma pandemia global para trazer esse sentimento à tona", elogiou Peter Debruge.