Promovendo um diálogo entre literatura e cinema, o drama Verlust chega às plataformas digitais nesta quinta-feira (19). O longa que reúne no elenco Andréa Beltrão e a a cantora Marina Lima está disponível nos serviços Now, VivoPlay e OiPlay.
Verlust é uma coprodução entre Casa de Cinema de Porto Alegre, Saliva Shots, Canal Brasil e Globo Filmes, além da empresa uruguaia Oriental Features. Trata-se do terceiro longa dirigido por Esmir Filho, que assina também o roteiro com o escritor e ator Ismael Caneppele. Os dois repetem a parceira de Os Famosos e os Duendes da Morte (2009), primeiro longa de Esmir, rodado no Rio Grande do Sul.
Tão logo lançou seu filme de estreia, Esmir se juntou novamente a Caneppele para escrever o roteiro de um futuro projeto. Assim como em Os Famosos e os Duendes da Morte, a ideia era contar a história de Verlust em filme e livro.
O longa se desenrola pelo ponto de vista de pessoas que se projetam em uma criatura encalhada numa praia, enquanto o livro escrito por Caneppele — a ser lançado pela editora Iluminuras — apresenta a história em primeira pessoa pelo ponto de vista desse ser.
— A medida que trabalhávamos no filme, Ismael escrevia o livro. Ele começou abordando o ponto de vista dos personagens, mas eu sugeri para ele escrever sob o ponto de vista da criatura que encalha. Isso deu estofo para a gente desenvolver a trama. Livro e filme dialogam. Os personagens vivem entre os desejos e anseios dessa criatura. E o filme se encontra nessa fronteira, que é a beira do mar — explica Esmir.
Rodado no balneário José Ignacio, no Uruguai, Verlust propõe uma experiência sensorial e contemplativa. A empresária musical Frederica (Andrea Beltrão) é o motor da trama. Ela está isolada em uma casa na praia ao lado de seu marido, o fotógrafo Constantin (o ator chileno Alfredo Castro, de Tony Manero e O Clube). Há décadas juntos, os dois enfrentam uma crise no casamento. Tuane (Fernanda Pavanelli), a filha musicista do casal, está de partida para estudar no Exterior, causando angústia na mãe.
Na casa vizinha está a estrela pop Lenny (Marina Lima). Com um trajetória bem-sucedida, a cantora tem sua carreira administrada por Frederica. O escritor João Wommer (Ismael Caneppele) está escrevendo a biografia de de Lenny.
— Ismael vive um escritor que vai descobrindo sua voz no filme, assim como ele estava descobrindo a própria voz enquanto a gente trabalhava. Foi um processo de metalinguagem — descreve Esmir.
Uma criatura das profundezas do mar encalha na praia, e esse acontecimento impacta os personagens, que têm dificuldades para repensar seus relacionamentos e buscar um recomeço. Todos eles são atados emocionalmente. Como indica o título, a perda (em alemão, "verlust") passa a ser a temática que ronda a praia, em especial, para Frederica.
— Toda essa sensação de um animal que transcende o coletivo, que precisa encalhar para viver a crise e se transformar. É o que a gente vê em Frederica — pontua Esmir.
Andréa e Marina
Um dos destaques de Verlust é a atuação de Andrea Beltrão, que apresenta uma Frederica com camadas esmorecidas e hesitantes. Esmir conta que a atriz foi a primeira do elenco a receber o roteiro. E imediatamente embarcou no projeto.
– Ela ficou completamente tocada. Foi muito sensível, queria fazer parte. Andrea continuou com a gente por todos esses anos, lia as diferentes versões do roteiro que mandávamos. Quando chegou ao set, estava bem preparada e com muita noção — lembra o diretor.
Andrea relata que sua personagem já estava bem desenhada no roteiro, e Esmir sabia o que pretendia com ela. Para a atriz, Frederica simboliza o poder:
— Ela representa o controle e a decisão. Transita muito bem entre esses personagens da casa. E é interessante ver as mudanças que acontecem em todos durante o filme, que fala de sucessos vencidos, fracassos, vazio, e mudança de rumos –avalia Andréa.
Já a personagem de Marina Lima, no começo, era chamada no roteiro de "ícone pop". Esmir e Ismael não sabiam se seria um cantor ou uma cantora. Não queriam um ator para interpretar um músico, mas sim trabalhar com a história de um artista transpondo-a para a ficção, que já viesse com suas músicas.
Esmir e Ismael conheceram Marina numa gravação de podcast e encontraram na cantora a ícone pop que precisavam.
– Gosto muito do que a Marina representa. A reinvenção. Ela nunca parou — diz Esmir. — A personagem tem isso, reinventar-se em qualquer época. Em cena, Marina vestiu uma personagem, mas ficou à vontade sendo ela mesma.
Para Andrea, contracenar com a cantora foi uma festa:
— Sou e sempre fui muito fã da Marina. Tivemos a maior intimidade, somos parecidas, na angústia e na alegria.