Cerca de 200 profissionais foram responsáveis por elaborar, durante dois meses, um protocolo para a retomada das atividades no setor audiovisual no Rio Grande do Sul. O documento, apresentado nesta quarta-feira (10), leva em conta o modelo de distanciamento controlado e a coloração das bandeiras, que indicam o risco de contaminação por coronavírus no Estado. Por conta disso, as novas normas de segurança para filmagem de séries, filmes e outras produções podem ser diferentes para cada região.
Ficou definido que, em caso de uma cidade gaúcha estar com bandeira preta ou vermelha — cores que representam maior risco de transmissão da doença e/ou pouca capacidade no sistema de saúde —, as gravações no set não são permitidas. Já para localidades com coloração laranja ou amarela — média/baixa propagação do vírus —, as filmagens presenciais estão autorizadas, desde que as normas de higiene e convívio sejam obedecidas.
As regras foram elaboradas pela Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC-RS) e pelo Sindicato da Indústria Audiovisual (SIAV-RS), com o apoio da Secretaria Estadual da Cultura e outras entidades do setor.
Sem beijos e abraços
Cada bandeira possui suas próprias normas de segurança (mais restritivas ou não) para o retorno das equipes no set. Porém, o documento elenca regras gerais que independem das cores do distanciamento controlado e devem ser obedecidas da pré até a pós-produção.
A ideia é que, quando as equipes chegarem ao set, todos os processos já estejam prontos e que, naquele local, ocorra apenas a filmagem. Ou seja, é preferível que a seleção da equipe, do elenco e até a escolha da locação seja feita de forma remota.
Entre as novas diretrizes, também está a recomendação de evitar cenas com abraços, beijos e contato físico entre os atores, com exceção de profissionais que formam um casal ou morem juntos na vida real. Filmagens com aglomerações ou uso de figuração também estão descartadas por enquanto. Haverá pausa nas gravações para higienização da equipe e da locação e é recomendado a restrição no número de objetos no set, como figurinos e móveis.
Todas essas normas, além de mudar o jeito de fazer cinema e TV, também vão influenciar o produto final. Com equipe mais enxuta, restrição de horários e cuidados máximos com a saúde de cada um, a tendência é que as produções sejam menores, mais simples, e restritas a um lugar só, de preferência ao ar livre.
— Não teremos condições de isolar o elenco em hotéis, como está acontecendo em outros países. Isso não faz parte da nossa realidade. Trabalhamos com orçamentos muito menores. Vamos viver um momento bem complexo em que projetos mais antigos vão ficar pausados. Vai se abrir um espaço para produções menores, como documentários sobre o momento atual, sitcoms com poucos personagens e peças publicitárias — explica Daniela Strack, presidente da APTC-RS.
Outras regras restringem a filmagem e o acesso aos sets. Confira:
- Tempo de filmagem: máximo de 12 horas. Deve ser reduzido para oito horas (bandeiras preta e vermelha) e dez horas para a bandeira laranja;
- Distanciamento de 2 metros para cada membro da equipe;
- Máscaras, face shield, óculos, luvas e macacões devem ser oferecidos a todos os trabalhadores;
- Medição de temperatura na entrada do set e distribuição de pulseira para restringir o acesso ao set apenas para os profissionais necessários para uma determinada cena;
- Realização de testes rápidos para covid-19, se possível;
- Proibição de utensílios coletivos;
- Alimentação deve ser servida em porções individuais e ambiente arejado;
- Álcool gel em vários pontos do set e uma equipe exclusiva para a limpeza;
Por enquanto, mesmo com o protocolo, o cinema gaúcho ainda percorre um caminho incerto e cauteloso, mas, durante essa trajetória, poderá viver um momento de renovação. O diretor de fotografia Bruno Polidoro, que ajudou na elaboração do documento, entende que os roteiros e projetos que estavam em andamento e que foram paralisados pela pandemia devem passar por modificações a partir de agora.
— Cinema é contato com pessoas, é aglomeração. Se pegarmos os roteiros já prontos, para produzir desta nova forma, teremos dificuldades e aumento no orçamento. Vamos ter que mudar a gênese da produção, criando roteiros que possam ter menos pessoas envolvidas e menos locações — avalia Polidoro, que trabalhou em diversas produções no Estado, entre elas o filme Legalidade (2019).
Limite de pessoal
O número máximo de pessoas dentro de um set é definido de acordo com a coloração da bandeira da região onde a gravação será realizada:
- Bandeira preta: permitidas apenas filmagens remotas;
- Bandeira vermelha: permitidas apenas filmagens remotas, porém autoriza o deslocamento de até cinco profissionais para entregas de equipamento, objetos e figurinos para as casas dos integrantes do elenco;
- Bandeira laranja: autoriza gravações em sets de filmagens com limite de 20 pessoas no total;
- Bandeira amarela: autoriza gravações em sets de filmagens com limite de 30 pessoas no total.
Com menos pessoas no set, mas a mesma demanda, uma situação que pode acontecer é a sobrecarga de profissionais. O protocolo recomenda evitar ao acúmulo de funções entre trabalhadores. É orientado também que se contrate uma pessoa específica para comandar as filmagens remotas.
— Vamos ter que entender esse balanço de ter menos profissionais dentro do set e trabalhar mais com profissionais de forma remota. Temos que pensar em estratégias de como proteger os profissionais do contágio mas também no bem-estar deles. Haverá outras formas de contratação de profissionais para evitar essa sobrecarga — entende Daniela Strack.
O protocolo completo pode ser consultado aqui.