O fim, seja o de relacionamentos, da vida ou dos valores de uma geração, é o nervo dos filmes do americano Ira Sachs. Por meio do registro minimalista das tensões que antecipam todo apagamento, seus dramas comovem sem apelar à pieguice. Frankie reitera a opção de Sachs contra os excessos.
Frankie é o apelido de Françoise Crémont, atriz francesa que sabe ter pouco tempo de vida e que reúne a família e uma grande amiga para um encontro de despedidas em Sintra, no litoral português.
Além de se inserir no repertório temático favorito de Ira Sachs, Frankie serve também de álibi para o cineasta concretizar o desejo de filmar a francesa Isabelle Huppert, uma das maiores atrizes vivas e um fetiche para diretores cinéfilos.
Depois de ter trabalhado ao longo de cinco décadas de carreira com Godard, Chabrol e outros ícones do cinema europeu, a francesa adquiriu uma aura autoral, que agora compartilha com cineastas fiéis à ideia de assinatura.
Huppert não pertence à linhagem das atrizes camaleônicas, aquelas que atraem pela capacidade de se metamorfosear em suas personagens. O método subversivo de atuação de Huppert consiste em roubar a essência de suas personagens para pôr em cena sua persona cínica e fascinante, numa estratégia de assinatura autoral.
Diretores, técnicos e colegas que já trabalharam com a atriz frequentemente relatam como ela dirige suas cenas. Além do controle das nuances de voz e gestos, Huppert adquiriu amplo domínio das técnicas e dos estilos do cinema e os maneja com autonomia.
Nesse sentido, Huppert não é apenas um instrumento afinadíssimo tocado por um músico, como se costuma comparar a relação entre diretor e intérpretes. Frankie amplifica essa possibilidade oferecendo a ela instantes solo e momentos orquestrais, nos quais Huppert compõe lindamente acompanhada por Marisa Tomei e Brendan Gleeson, atores também personalíssimos e de registros diversos.
Sachs, contudo, não deixa que o filme seja sequestrado por sua estrela. A família se mantém como o núcleo em torno do qual o diretor e seu fiel corroteirista, o brasileiro Mauricio Zacharias, tecem uma tapeçaria de afetos.
O filho instável, um casal em crise, a desordem adolescente e a perspectiva da solidão emergem em meio ao drama central, instaurando um desequilíbrio característico das emoções.
Em meio às turbulências, Frankie ainda tenta regular, impor sua onipotência. A finitude, porém, anuncia que durante ou depois da dor, outras forças ocuparão o vazio.
"Frankie"
Classificação: 12 anos
Elenco: Isabelle Huppert, Marisa Tomei, Brendan Gleeson e Jérémie Renier
Produção: França/Portugal, 2019
Direção: Ira Sachs
Em cartaz: Cinemark Barra, Espaço Itaú, GNC Moinhos e Guion Center