Sônia Braga foi o centro das atenções na primeira manhã dos debates sobre os filmes exibidos em Gramado. Tradicionalmente, a manhã do dia seguinte à exibição dos longas e curtas trazidos ao festival é dedicada a debates e mesas com o elenco, e Sônia participou da mais concorrida da manhã, a de Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, vencedor do prêmio do Júri no 72º Festival de Cannes, este ano.
No filme, sobre um povoado do sertão que passa a ser alvo de uma tentativa de apagamento físico e simbólico por mercenários estrangeiros, Sônia vive Domingas, médica da comunidade e espécie de figura de autoridade moral. Bem pouco afeita a autoridades e hierarquia ela própria, Sônia comentou durante o bate-papo que sua participação no filme foi uma alegria por permiti-la mergulhar em uma equipe composta por pessoas de todas as partes do Brasil e mesmo atores estrangeiros, como Udo Kier, alemão que já trabalhou tanto em ficções científicas classe B quanto em projetos de autores como Gus Van Sant e Lars von Trier.
— Eu vivo no meio da equipe. Não sou do tipo de ator que quer isolamento, eu quero ficar ali no meio do filme, ouvindo as pessoas, vendo o pessoal trabalhar. Eu sempre digo e as pessoas não acreditam, mas fui para os Estados Unidos para fazer um trabalho, não fiz o trabalho e fiquei por lá porque queria aprender melhor o inglês para me comunicar com as pessoas — comentou, respondendo a uma pergunta.
Embora não tenha sido alvo da maioria das perguntas enquanto estava na mesa do debate, Sônia se tornou o centro de um vórtice de fãs pedindo autógrafos e fotos (selfies não, ela prefere que outra pessoa bata a foto enquanto o admirador para ao seu lado). Bem humorada apesar da pressa, a atriz ainda orientava os fotógrafos amadores a virar a câmera na horizontal.
— Senão fica parecendo o amigo da onça — brincava, referindo-se ao popular personagem do cartunista Péricles (1924-1961).
Ela ainda teve a oportunidade de abraçar calorosamente Marina Merlino, jovem atriz que está em Gramado e é filha do diretor e tradutor José Rubens Siqueira, com quem Sônia fez sem primeiro trabalho no cinema, o curta Atenção, Perigo, em 1967.
— Você é parecida comigo. Eu podia ter sido sua mãe, ou sua avó — brincou a estrela.