Um filme gaúcho é o destaque da mostra competitiva brasileira no primeiro fim de semana do Festival de Gramado. Drama de formação com toques de suspense psicológico, Raia 4 é a estreia em longa-metragem do porto-alegrense Emiliano Cunha, com trajetória no curta — um deles, Endotermia, também será exibido em Gramado, na competição dos curtas gaúchos.
Estrelado pelas estreantes Brídia Moni e Kethelen Guadagnini, Raia 4 concentra-se na figura de Amanda (Brídia), adolescente com problemas de interação com a família, mas que compensa em sua dedicação à natação a timidez e a inadequação de sua vida pessoal. Esse equilíbrio é perturbado pela crescente e complexa rivalidade pessoal e competitiva com Priscila (Kethelen), outra nadadora talentosa que treina no mesmo clube.
O filme tem ainda no elenco Fernanda Chicolet (premiada pelo curta Demônia: Melodrama em Três Atos) e José Henrique Ligabue (que poderá ser visto também no longa Legalidade, em exibição no domingo, fora de competição).
– Fui atleta de natação da infância à vida adulta, e o filme une minhas duas paixões: o cinema e a natação. É a chance de mostrar ao público um universo fascinante, que me é precioso, e explorar um cinema de sensações, trazendo à tela a experiência da natação como é para os esportistas – disse o diretor gaúcho a Zero Hora durante as filmagens, em 2018.
Estrangeiros
O fim de semana também dá a largada na mostra competitiva de filmes estrangeiros, com a exibição, no sábado (17), às 18h, do equatoriano A Son of Man: La Maldición del Tesoro de Atahualpa, codirigido por Jamaicanoproblem e Pablo Aguero. Filme apresentado pelo Equador para a seleção do Oscar de melhor filme estrangeiro (mas não indicado na lista final), A Son of Man enfoca um adolescente criado em um rico ambiente em Minneapolis, nos Estados Unidos, que se junta, de forma relutante, a seu pai equatoriano em uma busca pelo ouro inca no meio da selva.
O segundo filme da mostra de longas estrangeiros será exibido no domingo (18), na sessão das 18h. Dirigido por Paula de Luque, autora de um controverso documentário sobre Néstor Kirschner, La Forma de las Horas narra as 24 horas do dia em que um casal rompe seu relacionamento.
Não haverá exibição de longa nacional na noite de domingo, mas também estarão na tela do Palácio dos Festivais concorrentes da competição de curtas nacionais. Antes de Raia 4, no sábado, será exibido Marie, dirigido por Leo Tabosa – que trouxe a Gramado no ano passado o curta Nova Iorque, estrelado por Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes e vencedor do Prêmio Canal Brasil no festival. Marie narra a história de uma mulher trans que volta a sua cidade natal para providenciar o enterro do pai.
No mesmo dia, antes de Son of a Man, passa A Mulher que Sou, da diretora Nathália Tereza sobre uma mulher em busca de uma nova vida, e no domingo, precedendo La Forma de las Horas, Renata Diniz, de Brasília, traz o curta O Véu de Amani, sobre uma menina paquistanesa morando no Brasil.
Carla Camurati, o nome da retomada
Cinematografias mais estáveis não teriam a duvidosa distinção de ter um nome associado a um processo de “retomada” artística. Mas o instável panorama cultural brasileiro tem em Carla Camurati um nome de referência na história do seu cinema.
Atriz consagrada em novelas e filmes, Carla estreou como diretora de longas-metragens em 1995, com Carlota Joaquina: Princesa do Brasil. Abdicando da seriedade associada a filmes de época no período, a produção, estrelada por Marieta Severo, era uma comédia de baixo orçamento que lançava um olhar sarcástico sobre um período remoto da história brasileira. Era também o primeiro filme nacional depois de 1990, ano em que o governo Collor de Mello extinguiu a Embrafilme.
Carla será homenageada às 20h30min de sábado, no Palácio dos Festivais, com a entrega do Troféu Eduardo Abelin, que, desde 2003, é concedido pela organização do festival a grandes diretores, e que já reconheceu nomes como Júlio Bressane, Cacá Diegues, Hector Babenco e Tizuka Yamasaki.
Carla começou sua carreira nos anos 1980, tendo atuado em grandes produções do cinema nacional como O Olho Mágico do Amor (Kikito de melhor atriz em 1981), Estrela Nua (Prêmio Especial do Júri de Gramado em 1985), Cidade Oculta, Eternamente Pagu (melhor atriz no Festival de 1987) e Lamarca. Como diretora, assinou outros três filmes e, aos 58 anos, prepara um documentário sobre a redemocratização no país.
Fim de semana dos curtas gaúchos
Neste primeiro fim de semana do festival será apresentada a mostra competitiva gaúcha de curtas. São 20 filmes na disputa do Troféu Assembleia Legislativa. Sábado, a partir das 13h, no Palácio dos Festivais, serão exibidos O Menino da Terra do Sol, de Michel Marchetti; Tesourinho, de Bruna Dreyer Nery; Quero Ir para Los Angeles, de Juh Balhego; Endotermia, de Emiliano Cunha; Só Sei que Foi Assim, de Giovanna Muzel; Kerexu, de Denis Rodriguez e Leonardo Remor; Budapest_V4_Final2, de Gabriel Motta; É Assim Que Você Parece, de Pedro Valadão; Veraneio, de Nelson Diniz e A Pedra, de Iuli Gerbase.
No domingo, é a vez de Linha Travessão, de Douglas Roehrs; Êles, de Roberto Burd; Sonata, de Felipe Diniz; Stardust, de P. Zaracla; Tempestade e a Janela de Cristal, de Viviane Locatelli; Dia de Mudança, de Boca Migotto; A Maior Locadora do Mundo, de Matheus Mombelli; buitenlanders/estrangeiros, de Cassio Tolpolar; Who’s That Man Inside my House?, de Lucas Reis; e O Carnaval de Gregor, de Kiwi Bertola.
Os prêmios serão entregues neste domingo, às 22h30min.