Pioneiro do hip-hop nacional, Thaíde contracena com Paulo Miklos no filme O Homem Cordial, a história de um roqueiro dos anos 1980 que é filmado tentando impedir a abordagem de um policial a um menino acusado de roubar um celular — o longa estreou na primeira noite do Festival de Gramado, na sexta-feira (16). A morte do PM em circunstâncias misteriosas transforma o personagem de Miklos em um vilão aos olhos da opinião pública, e ele acaba por restabelecer contato com o ex-colega de banda vivido por Thaíde, hoje dono de um bar na periferia.
Assim como Miklos, músico que vem se revelando um ator elogiado, Thaíde funciona como o coração do filme em momentos cruciais (é parte da proposta de O Homem Cordial que a história, a determinado momento, passe de Aurélio, o roqueiro interpretado por Miklos, para outros personagens negros tornados invisíveis pela estrutura social). O autor de sucessos como A Noite, Afro Brasileiro e Senhor Tempo Bom conversou com GaúchaZH sobre sua faceta de ator.
Uma apresentação musical, ainda mais uma apresentação de rap diante do público, tem um forte componente teatral. Isso é algo que você de algum modo canaliza quando está atuando?
Isso ajuda bastante. Porque quando eu estou apresentando para um público, eu não sei quem são as pessoas que estão assistindo, de onde vêm, não sei nem se gostam do meu trabalho. Então tenho que convencê-las de que aquilo que estão assistindo é uma coisa autêntica. Eu comecei assim, muito tímido, e fui me desenvolvendo e ficando melhor. Então quando chego na frente de uma câmera e tenho de falar, isso me ajuda bastante, pensar que é como se eu estivesse ali me apresentando
Você é o nome inconteste do hip-hop nacional. Mas na atuação, tem uma carreira mais curta. É algo que atrai, de algum modo, essa adrenalina de iniciante, de alguém que não tem seu nome consagrado naquela arte nos mesmos patamares que você já gravou o seu na história do rap?
É uma grande responsabilidade. Quando surge uma oportunidade como a desse filme, eu fico assim: será que aceito, será que vou fazer a coisa certa? Mas a gente só vai saber disso se for lá fazer. Se a gente se retrair e não aceitar, a gente nunca vai saber se era capaz de fazer. E por enquanto está dando certo. E trabalhando com essa gente de talento e experiência como a equipe que produziu este filme, fica mais fácil aprender. Aprendi muito fazendo este filme.
A presença negra na cena roqueira dos anos 1980 era restrita. Havia Clemente, dos Inocentes, João Fera, nos Paralamas, e Renato Rocha, no Legião Urbana. De algum modo você sente que seu personagem se junta a essa turma?
O que me passou pela cabeça foi o meu começo, na verdade. Meus primeiros dois discos foram produzidos pelo Nasi, do Ira. Ele é o meu padrinho musical. E agora no filme estou ali como um ex-integrante da banda, amigo do roqueiro Paulo Miklos, foi isso que eu considerei um presente dessa arte do cinema.