Três atores brasileiros com uma trajetória marcante no cinema do Rio Grande do Sul foram homenageados na manhã desta quinta-feira (22) com o título simbólico de embaixadores do cinema gaúcho. A iniciativa, promovida em conjunto pelo Instituto Estadual de Cinema (Iecine-RS) e pelo Museu do Festival de Cinema de Gramado, entregou um bóton com o brasão do Rio Grande aos atores Fernando Alves Pinto, Thiago Lacerda e Murilo Rosa.
Coerente com o tom político que permeou todo o evento, a cerimônia começou com a leitura de um manifesto divulgado na quarta-feira e assinado por 22 secretários estaduais de cultura em defesa da Ancine — incluindo a secretária do Rio Grande do Sul, Beatriz Araújo.
— O Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura posiciona-se em defesa inarredável da Agência Nacional de Cinema (Ancine), unido forças que mantêm vivas e fazem crescer o audiovisual brasileiro, vítima de graves ameaças, sob o pretexto de um radical moralismo, inclusive, com claros indícios do retorno à censura — diz o primeiro parágrafo do manifesto.
A cerimônia continuou com Zeca Brito, diretor do Iecine, explicando por que os três atores foram escolhidos como "embaixadores do cinema".
— É porque nós temos uma indústria do cinema atuante no Rio Grande do Sul, temos a possibilidade de fazer cinema como uma profissão que esses três atores, esses três rapazes, operários da cultura, já tiveram a oportunidade de cruzar o Brasil para vir trabalhar aqui, construindo simbologia para a gente, formar público para o cinema brasileiro através da importância que eles têm — saudou o diretor do Iecine, Zeca Brito, um dos idealizadores da homenagem.
Tenho até hoje a mateira que ganhei de aniversário quando estávamos filmando Anahy de las Misiones
FERNANDO ALVES PINTO, ATOR
Fernando Alves Pinto foi homenageado por seu papel em Anahy de las Misiones (1997), filme de Sérgio Silva que marcou a retomada do cinema gaúcho, na esteira do mesmo processo no cinema nacional.
— Eu já me considerava gaúcho, na verdade, tenho até hoje a mateira que ganhei de presente de aniversário quando estávamos filmando Anahy de las Misiones. Quando o Zeca me falou dessa ideia, gostei de tornar oficial essa minha "gaucheza" — comentou.
Thiago Lacerda, o Garibaldi de A Casa das Sete Mulheres e o Capitão Rodrigo do filme O Tempo e o Vento, também integrante do júri oficial de longas brasileiros deste ano, ressaltou o caráter de resistência que o Festival assumiu nesta edição.
— Acho que todos nós que vivemos de contar histórias nos sentimos um pouco chamados à luz da resistência cultural diante de tudo o que temos visto. Esse foi o discurso recorrente do festival, inclusive. Acho que realizar filmes como o Zeca e o Taba (Tabajara Ruas) fazem, estar em cena, pôr a história em cena, é em si um ato político. O próprio fato de estarmos aqui celebrando o cinema nacional e latino-americano configura um ato de resistência política. Queria dizer o quanto estou feliz de estar aqui em Gramado porque acho que devemos fazer questão de estar juntos — disse.
O terceiro homenageado, Murilo Rosa, visto recentemente em A Cabeça de Gumercindo Saraiva, de Tabajara Ruas, encerrou com uma manifestação de convite ao diálogo.
— É uma honra para mim estar aqui. Fui criando laços afetivos com o Sul, desde A Casa das Sete Mulheres, já faz tempo. É uma delícia poder participar desse retrato rico de uma região do país. Acho que o meu papel aqui é aprender com vocês. Acho que a melhor forma de a gente resistir neste momento é ser afetivo, ser generoso. Não tem como nos impedir de fazer cinema — disse.