A desilusão de José Padilha com Sergio Moro voltou à fala do diretor nesta terça-feira (7), durante coletiva de imprensa da segunda temporada da série O Mecanismo. Para o cineasta, a desilusão com o juiz que integrou a Lava- Jato se compara à decepção que os brasileiros sofreram com o goleiro Bruno, jogador que, antes de ser condenado pela morte de Eliza Samudio, era ídolo do Flamengo.
— Eu e a torcida do Flamengo vimos jogos contra o Botafogo em que o goleiro Bruno agarrava os pênaltis e o Flamengo era campeão. Todo mundo comemorava e achava o Bruno maravilhoso. Anos depois, ele cometeu um assassinato. Mas foi anos depois, né? Quando ele agarrava um pênalti, eu não podia criticá-lo pelo homicídio que ele cometeu porque ainda não tinha acontecido. A mesma coisa com o Moro — argumentou Padilha.
A admiração que sentia por Sergio Moro o levou a fazer elogios pelo que considerava independência do juiz em destrinchar casos de corrupção no governo. Na primeira temporada de O Mecanismo, que retrata um grupo de policiais federais debruçados sobre casos de corrupção envolvendo empreiteiras e grandes políticos — numa clara referência à Lava-Jato e aos governos de Lula e Dilma Rousseff —, Moro inspirou o personagem de Otto Jr, que interpreta o juiz Paulo Rigo, um profissional comprometido com a causa, mas vaidoso.
Na coletiva de imprensa, Padilha explicou que a série, cuja sequência estreia nesta sexta-feira (10) na Netflix, segue a temporalidade dos eventos que ocorreram na vida real. Por isso, disse ele, os vazamentos das conversas telefônicas de Dilma com Lula ainda não foram abordadas na trama. Considerou o fato um equívoco.
— Se estou contando a história do começo da Lava-Jato, o Moro precisa fazer as coisas que fez no início da operação. Na primeira temporada, a gente não colocou o vazamento de parte da conversa do Lula com Dilma. A conversa aconteceu de verdade, e foi um erro processual liberar a conversa do jeito que foi liberada, é um erro que está criticado na segunda temporada. Não podia criticar isso na primeira porque não tinha acontecido — explicou.
Seu descontentamento com o juiz, agora Ministro da Justiça e da Segurança Pública de Jair Bolsonaro (PSL), ainda fez com que o comparasse a um "salame fatiado" do presidente, "entregue em pedaços para o centrão".
— O Bolsonaro está negociando a Reforma da Previdência e está usando Moro como moeda de troca. O Moro saiu de herói nacional para salame fatiado e entregue em pedaços para o centrão poder aprovar a Reforma da Previdência — opinou Padilha.
Em abril, Padilha escreveu um artigo para o jornal Folha de S. Paulo em que dizia reconhecer o erro em ter acreditado na independência de Moro. O ministro rebateu dizendo que as opiniões do diretor eram "excesso de ficção".