Vingadores: Ultimato chegou aos cinemas na última quinta-feira (25) batendo recordes e faturando US$ 1,2 bilhão em bilheteria ao redor do mundo, tendo a estreia mais lucrativa da história. Só no Brasil, o blockbuster da Marvel ocupa 80% das salas de cinema, número considerado inaceitável por cineastas brasileiros.
Para Mariza Leão, produtora do filme brasileiro De Pernas Pro Ar 3 — o mais afetado pela estreia de Vingadores —, é um "absurdo" não haver uma regra para um limite de ocupação das telas.
A comédia protagonizada por Ingrid Guimarães ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores em menos de um mês de lançamento, mas agora perdeu salas para o blockbuster.
— Isso é um discurso liberal "pra boi dormir", porque se você tem um estado que fomenta [o cinema], uma indústria em atividade, que gera riqueza e imposto, você vai deixar a permanência de um filme brasileiro à mercê dessa selvageria do mercado? É absolutamente inaceitável — reclama Mariza.
Ela cita que nos Estados Unidos, o novo Vingadores ocupa 4.600 salas, segundo o Variety, pouco mais de 10% do parque exibidor. Nos cálculos do Filme B, portal que monitora esse tipo de dado no Brasil, o filme americano chega a ester em 2.700 das 3.356 salas do país.
A discussão sobre lançamentos "predatórios", como foram chamados pela Ancine, a agência brasileira que regula o setor audiovisual, não é recente. Jogos Vorazes: A Esperança, de 2014, já havia ocupado metade das salas brasileiras, e a tendência seguiu com filmes como Jurassic World: O Reino Ameaçado, do ano passado.
Crítico da ocupação massiva de filmes americanos no Brasil, o cineasta André Sturm diz que essa exploração do mercado "vai contra qualquer princípio de concorrência, direito do consumidor, de mercado".
— Precisa de tanta sessão por que tanta gente quer ver o filme ou tanta gente vai ver o filme por que tem tanta sala? É só pensar: o cara vai ao cinema e vai ver Vingadores. É óbvio, porque só tem Vingadores. Claro, o filme tem apelo, mas também não tem concorrência — ele diz.
Tanto Mariza quanto Sturm acreditam que a única solução para a questão é limitar o número de salas que podem exibir o mesmo filme por complexo. A chamada cota de tela suplementar, resultado de um acordo de produtores, distribuidores e exibidores com a Ancine, foi suspensa em 2018, por decisão do Tribunal Regional Federal.