Ingrid Guimarães entrou como coadjuvante no projeto De Pernas pro Ar, uma das franquias de maior sucesso do cinema brasileiro. Virou protagonista, assumindo o papel que seria de Gloria Pires, e nove anos depois celebra o sucesso consagrado com a sua cara, que acaba de estrear o terceiro e último título. De Pernas pro Ar 3 encerra a trilogia de Alice, personagem de Ingrid, bem-sucedida administradora de uma rede de sex shops que tenta conciliar a vida de executiva com a rotina familiar.
Os dois primeiros longas-metragens, lançados em 2010 e 2012 e dirigidos por Roberto Santucci, somaram 8,3 milhões de espectadores e mais de R$ 80 milhões em bilheteria. Neste novo filme, assinado por Julia Rezende, a expectativa é de números superlativos.
Na trama, Alice, agora dona de uma corporação de produtos eróticos com alcance mundial, decide entregar o comando do negócio para a mãe, Marion (Denise Weinberg), para cuidar da família. A filha mais nova, de seis anos, sente falta de Alice em casa, e o filho mais velho, de 20, está engatando os primeiros namoros.
— No primeiro filme, Alice descobre seu lugar ao sol e se empodera. No segundo, o sucesso da empresa conquista a América e, no terceiro, o mundo. Vemos o preço que ela paga para ser quem é, poderosa. A Alice chegou a lugares onde nunca imaginava, mas mostramos o quanto a maternidade ainda está mais nas mãos das mulheres — explica Ingrid, em entrevista a GaúchaZH por telefone.
A chegada de Leona (Samya Pascotto), jovem descolada que desenvolve um óculos virtual para fazer sexo e planeja se lançar como empresária do ramo, no entanto, atrapalha os planos de Alice, que não ficará parada diante da entusiasmada concorrente.
Muito dedicada a seus projetos profissionais, Ingrid garante que vê muitas de suas atitudes se confundindo com as da protagonista de sua franquia cinematográfica:
— Diariamente, eu vivo coisas que estou mostrando no filme. É o personagem que mais se parece comigo em toda a carreira. No dia de uma das pré-estreias, era aniversário do meu marido e eu estava no evento. E pensei: "Meu Deus, é igual a Alice".
A artista global acredita que a franquia conseguiu desmistificar um pouco o tema sexo. Em uma das sessões de lançamento, lembra, uma convidada lhe disse ter virado empreendedora do ramo por causa do filme. Ingrid vê o humor como um facilitador nessa questão:
— O sexo ainda é tabu, mas isso melhorou muito. Com humor ficou mais fácil falar sobre ele, e o mercado erótico duplicou no Brasil depois dos filmes. O humor realmente abre diálogo.
ENTREVISTA: Ingrid Guimarães
Filmes estrelados por ti, por Paulo Gustavo e Mônica Martelli costumam liderar as bilheterias no Brasil. Qual sua avaliação sobre a produção cinematográfica nacional?
A gente está em uma batalha. Não é nós contra nós mesmos. A luta é fugir dos super-heróis, dos filmes da Disney, dos desenhos. Não podemos deixar o cinema nacional virar cinema americano. O De Pernas pro Ar 3 está sendo lançado entre Shazam! e Os Vingadores, são duas semanas de espaço. Temos poucas chances de datas para programar um filme brasileiro, os super-heróis invadiram o mundo. Então, se a gente não se ajudar e apoiar, o cinema brasileiro acaba. Em termos de produção, estamos congelados. O Brasil é dividido entre o autoral e o blockbuster. Muita gente faz filme e tem pouco espaço para lançar. Ficamos fugindo das férias, do outro filme… falta data. É importante que tenha essa cota (política, que determina a proporção de filmes nacionais a ser exibida em cada sala durante o ano), para que o cinema nacional continue existindo como indústria.
Você apresentou recentemente a série documental Viver do Riso, projeto seu exibido pela Globo. Como foi o processo de criação e qual foi a sua preocupação em retratar a história do humor no Brasil?
Eu cheguei aos 45 anos e pensava em como envelheceria nesta profissão. Tinha essa chateação, de como a comédia era tratada, essa visão de primo pobre da interpretação. A crítica é desrespeitosa com ela, a comédia deveria ser mais bem tratada. Cansei de ser indicada a prêmios, ir até a cerimônia e o público ficar me olhando com aquela cara de café com leite, esperando alguma coisa engraçada (risos). Faltava uma série para mostrar o quão difícil foi a mulher conquistar seu espaço no humor – é o meu episódio preferido – e como em tão pouco tempo conseguimos o protagonismo. A série tem essa preocupação de que a minha filha, por exemplo, saiba, daqui a 10, 15 anos, quem foi Chico Anysio e entenda esse gênero a poucos cliques na internet. Por isso, estou muito realizada com a divulgação dele na Globo e em outras plataformas.
Quais são os seus próximos projetos?
Estou no elenco da próxima novela das sete, Bom Sucesso, em que faço o papel de uma atriz famosa. Ela fala o que pensa, é uma verdadeira diva. Em agosto, estreia o meu programa Tem Wi-Fi?, no GNT, que fala sobre redes sociais e o tamanho que elas tomaram, para o bem e o mal. São oito episódios em que entrevisto grupos de WhatsApp, anônimos que viralizaram e até artistas que se fizeram pela web, como Luísa Sonza e Kéfera. Discutimos também a parte política das redes, pessoas que foram negativamente afetadas pela internet, e até as fake news estão na pauta.