Por Bruna Pacheco
Jornalista, editora do portal Vigília Nerd
Assistir à Capitã Marvel protagonizando um filme nas comemorações dos 10 anos do Universo Cinematográfico da Marvel e os 90 anos da Marvel Comics tem um gosto especial. Amargo, mais especial.
Durante muito tempo, as meninas viam a Viúva Negra, a Agente Carter, a Feiticeira Escarlate e tantas outras em cena só como coadjuvantes. Capitã Marvel veio mostrar que mulheres podem (e devem) protagonizar seus próprios destinos. Em 2017, Mulher-Maravilha ganhou seu filme solo, e barreiras foram quebradas. Entretanto, o contexto envolvendo a Capitã Marvel nos trouxe um pouco mais.
Nascida em 1968, na Marvel Comics, nos quadrinhos criados pelo roteirista Roy Thomas e pelo desenhista Gene Colan, Carol Danvers apareceu inicialmente como uma oficial da Força Aérea dos EUA e colega do super-herói kree Mar-Vell. Em 1977, foi chamada pela primeira vez de Ms. Marvel, depois do seu DNA ter se fundido ao de Mar-Vell durante a explosão, dando a ela poderes sobre-humanos.
Capitã Marvel transgrediu as regras inclusive em gênero de uma personagem dos quadrinhos. É que Mar-Vell surgiu como um personagem masculino, mas ganhou vida por Annette Bening, e não por Jude Law, como se acreditava até pouco antes da estreia do filme. Nos quadrinhos, Mar-Vell tinha um interesse romântico por Carol Danvers. Aliás, o estereótipo da mulher surgir sempre a partir do interesse romântico vinha se prolongando desde sempre. Até agora. Na nova adaptação, ela é a mentora: uma cientista que cria uma máquina cobiçada por muitos planetas (e que dá os poderes à Carol). Apesar de parte da comunidade nerd não aceitar, a troca foi emblemática. Porque os poderes não vieram de alguém que era apaixonado por Carol. Vieram da criação de uma cientista. Não vieram de um homem, mas de uma mulher.
Sem rivalidade feminina ou uma relação romântica, Carol faz parte de uma rede de apoio toda formada por mulheres. Sua chefe, uma cientista brilhante, é mulher, e sua melhor amiga, que é colega na corporação, a apoia em seus passos. Capitã Marvel mostra, nas entrelinhas, que as mulheres devem se apoiar.
Com as novas referências, as meninas não precisam mais escolher se querem ser uma princesa dorminhoca, que perde o sapato no baile ou que conversa com animais e fala com anões cantantes. As novas gerações já possuem outras referências. Podem ser a Elsa, a Valente, a Mulher-Maravilha e, agora, a Capitã Marvel. Um filme com protagonismo feminino como esse é o exemplo de que as mulheres podem ser o que elas quiserem.
É preciso quebrar barreiras e mostrar que mulheres fazer qualquer coisa. E já passou da hora de os homens aprenderem a lidar com isso. Durante toda a sua jornada, é possível ver que Carol Danvers tentou, caiu, foi desacreditada, mas levantou. Uma, duas, três, inúmeras vezes. Fez tudo o que os homens disseram que ela não iria conseguir. Como todas as mulheres fazem em suas trajetórias. Levam tapas, da vida, da sociedade e inclusive de companheiros. Caem. Mas encontram força para levantar.
Mulher-Maravilha, Jessica Jones, Agente Carter, Capitã Marvel e outras que chegaram antes abriram as portas. Que Capitã Marvel complete a revolução que o mundo do entretenimento precisa.
Por mais que os haters falem das falhas de roteiro e direção, seu significado vai além disso. Outros filmes de super-heróis também contam com problemas similares, até piores. Nenhuma falha diminui a grandiosidade de Capitã Marvel.
Ao fim, é gratificante ver que o filme e a personagem incomodaram muita gente. Estão mostrando a mudança. Porque, rapazes, segurem-se: as mulheres estão tomando os lugares que a elas pertence.