Algo de diferente aconteceu quando Diana Prince resolveu deixar a paradisíaca ilha de Themyscira. Desde que estreou, Mulher-Maravilha deixou de ser apenas a heroína que consegue salvar o mundo da guerra e já é apontada como um possível marco para mulheres que fazem cinema no mundo.
O longa estrelado por Gal Gadot e dirigido por Patty Jenkins não só bateu recorde de maior bilheteria de estreia para um filme dirigido por mulher como também manteve-se na primeira posição de mais vistos na sua segunda semana em cartaz. E ainda salvou a reputação da DC Comics após os controversos Batman vs Superman (2016) e Esquadrão Suicida (2016).
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Com números superlativos – faturou US$ 223 milhões no lançamento mundial, que inclui bilheterias de Estados Unidos, China, Coreia do Sul, México, Reino Unido e Brasil –, a obra desmontou os argumentos de que histórias de super-heroínas não atraem olhares femininos e nem são rentáveis. Mulher-Maravilha ainda caiu nas graças dos críticos e tem 93% de aprovação no site americano Rotten Tomatoes.
Patty Jenkins, 45 anos, embarcou no projeto após Michelle MacLaren pedir afastamento alegando diferenças criativas com a Warner. Na bagagem, levava apenas o premiado Monster: Desejo Assassino (que rendeu um Oscar a Charlize Theron em 2004) e alguns episódios de séries como Arrested Development e The Killing. Com o sucesso que seu filme está fazendo, derrubou a desconfiança dos executivos do estúdio, que não planejavam uma continuação da história e, agora, terão que renegociar contratos e valores com a diretora e o elenco, em especial com Gal Gadot, que recebeu apenas US$ 300 mil para estrelar Mulher-Maravilha, número bem inferior aos cerca de US$ 2 milhões que Ben Affleck e Henry Cavill embolsaram por Batman vs Superman.
Com o novo trabalho, a diretora colocou seu nome no seleto grupo de cineastas mulheres que comandam grandes projetos (conheça outras abaixo). Para Luísa Pécora, jornalista e editora do site Mulher no Cinema, o rendimento do filme da heroína pode significar o início de uma mudança tão esperada na indústria cinematográfica. Hoje, as mulheres respondem pela direção de apenas 7% das grandes produções de Hollywood, segundo dados de um estudo da Universidade Estadual de San Diego que analisou os 250 filmes de maior bilheteria nos EUA em 2016.
– Os filmes que serão produzidos agora não terão mais a responsabilidade que Mulher-Maravilha carregava. Como era o único filme do gênero sendo dirigido e estrelado por mulheres, se desse errado, todo o panorama seria repensado. Daqui para a frente, as oportunidades tendem a ser maiores, mas, além disso, cada produção poderá ser avaliada por si só, sem o peso de ser um retrato do todo – argumenta Luísa: – Claro que não tem como um filme mudar tudo, ainda levará um tempo até o cenário mudar.
Mesmo pensamento tem a cineasta gaúcha e professora da Unisinos Lisiane Cohen, que vê uma possibilidade em aberto:
– Espero que essa aceitação positiva de Mulher-Maravilha abra caminhos. Lógico que não vai ser um único filme a derrubar as todas as barreiras que a gente vem lutando há tanto tempo para derrubar, mas tudo está favorecendo. É uma mudança social que vem ocorrendo, e a indústria não fica alheia.
PODEROSAS E TALENTOSAS
Além de Patty Jenkis, outras três cineastas também brilham no universo das grandes produções cinematográficas.
Sam Taylor-Wood
Responsável pela adaptação de Cinquenta Tons de Cinza (2015), que até Mulher-Maravilha detinha a maior bilheteria de estreia de um filme dirigido por mulher. No dia 30, estreia na Netflix com a série Gypsy, estrelada por Naomi Watts.
Kathryn Bigelow
Única mulher com um Oscar de melhor direção, a americana ganhou a estatueta em 2010 pelo longa Guerra ao Terror. Em agosto, lança Detroit, filme que retrata cinco dias de violência na cidade dos EUA em 1967.
Ava DuVernay
Diretora de Selma (2014) e de A 13ª Emenda (2016), é a primeira negra a dirigir um filme com orçamento de mais de US$ 100 milhões. Uma Dobra no Tempo é produção da Disney com estreia prevista para 2018.
NA HISTÓRIA
Donas do pedaço (1)
Até meados dos anos 1920, as mulheres dirigiam metade dos filmes produzidos em Hollywood e tinham salários maiores do que os homens. Lois Webe assinou mais de 130 produções nesse período e foi a primeira produtora a ter um estúdio com seu nome. Mabel Normand foi uma das primeiras a dirigir Charles Chaplin em Hollywood.
Donas do pedaço (2)
Em 1919, a atriz, diretora e produtora Mary Pickford fundou com D. W. Griffith, Charlie Chaplin e Douglas Fairbanks a United Artists, um dos mais importantes estúdios da era de ouro de Hollywood. No começo do século 20, Anita Loos tinha tanto prestígio como roteirista que foi a primeira profissional do ramo, entre mulheres e homens, a ser contratada para a função em um estúdio.
Clube do bolinha (1)
Nenhum filme dirigido por mulher figura entre as maiores bilheterias de todos os tempos. O ranking ainda é encabeçado por E O Vento Levou (1939), de Victor Fleming, que arrecadou US$ 1,7 bilhão nos EUA e no Canadá, em valores atualizados.
Clube do bolinha (2)
Segundo levantamento de 2016 do Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema, da Universidade de San Diego (EUA), apenas 7% dos 250 filmes de maior bilheteria naquele ano foram dirigidos por mulheres. O mesmo estudo apontou que as mulheres representavam 17% dos diretores, produtores, roteiristas, produtores executivos, editores e diretores de fotografia nos créditos nos 250 filmes de maior bilheteria dos EUA.
Bendito fruto
Patty Jenkins é a única mulher à frente dos 10 filmes com maior bilheteria de 2017, até o fim de semana passado. Confira todos abaixo:
A Bela e a Fera– US$ 1,24 bilhão
Velozes e Furiosos 8 – US$ 1,23 bilhão
Guardiões das Galáxias Vol. 2 – US$ 833, 6 milhões
Logan – US$ 615, 6 milhões
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, de Joachim Rønning e Espen Sandberg – US$ 600 milhões
Kong: A Ilha da Caveira, de Jordan Vogt-Roberts – US$ 566,1 milhões
O Poderoso Chefinho, de Tom McGrath – US$ 488,1 milhões
Mulher-Maravilha, de Patty Jenkins – US$ 438,5 milhões
Cinquenta Tons Mais Escuros, de James Foley, US$ 378,8 milhões **
Your Name, de Makoto Shinkai US$, 354,4 milhões *
* Desenho animado ainda inédito no Brasil
** Sam Taylor-Johnson foi a diretora do primeiro filme da série, Cinquenta Tons de Cinza (2015), que faturou US$ 571 milhões