As mulheres fazem parte da história do cinema desde os primórdios da imagem em movimento, com presença destacada não apenas à frente das câmeras, mas também exercendo as mais diferentes atividades no processo de realização de um filme. Neste Dia Internacional da Mulher (8), vale lembrar, por exemplo nomes de pioneiras como a francesa Alice Guy Blachè (1873-1968), primeira mulher a dirigir um filme de ficção e responsável por visionárias experiências no campo da sonorização, colorização e efeitos visuais, além de ter sido dona de seu próprio estúdio.
Mas, apesar de as mulheres representarem ao menos 50% do público nos cinemas norte-americanos, de acordo com dados da Motion Picture Association of America, em 2018, elas ainda representam menos de 5% na lista de diretores das maiores bilheterias do ano. Da mesma forma, apenas cinco vezes o trabalho de cineastas mulheres foi reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com a indicação Oscar de melhor direção, em 91 edições do prêmio.
Em 1977, Lina Wertmüller se tornou a primeira mulher indicada ao prêmio, por Pasqualino Sete Belezas. Em 1994, foi a vez de Jane Campion, por O Piano. Sofia Coppola também alcançou a honra, no ano de 2004, por Encontros e Desencontros. Mais recentemente, em 2018, a estreante Greta Gerwig foi indicada por Lady Bird. Apenas Kathryn Bigelow, contudo, levou a estatueta de melhor diretora, por seu trabalho em Guerra ao Terror (2008), na cerimônia de 2010.
Kathryn integra o time de cinco cineastas em atividade de diferentes gerações que destacamos para homenagear neste Dia Internacional da Mulher, profissionais talentosas que demarcaram seu espaço em um território ainda predominantemente masculino.
Kathryn Bigelow
Aos 67 anos, natural da Califórnia, Kathryn Bigelow entrou para a história com seu longa Guerra ao Terror. A trama estrelada por Jeremy Renner acompanha um grupo de militares especialistas em explosivos encarregado de desarmar bombas e minas durante a Guerra no Iraque, destacando os efeitos psicológicos da arriscada missão. A produção ganhou um total de seis Oscar, incluindo os de melhor filme e roteiro original.
Em 2013, ela voltou a receber uma indicação na categoria de melhor diretora por A Hora Mais Escura. A produção é inspirada na caçada realizada pelos Estados Unidos ao terrorista Osama Bin Laden. A história mostra a trajetória de uma agente da CIA que precisa interrogar prisioneiros possivelmente ligados à Al Qaeda.
Onde assistir: A Hora Mais Escura está disponível no catálogo da Netflix Brasil e no Prime Video; o serviço da Amazon ainda disponibiliza Jogo Perverso e Point Break.
Sofia Coppola
O talento poderia estar no sangue: a filha de Francis Ford Coppola foi a terceira mulher a ser indicada para um Oscar de melhor direção, em 2004, por seu trabalho em Encontros e Desencontros (2003) — ela acabou levando a estatueta de melhor roteiro original. A história, que se desenrola em Tóquio, mostra a amizade entre dois tipos melancólicos: uma jovem, vivida por Scarlett Johansson, que acompanha o namorado fotógrafo, e um ator decadente, interpretado por Bill Murray, que ali foi gravar um comercial.
Sofia, 47 anos, é conhecida por abordar com delicadeza conflitos do jovem universo feminino, como solidão e deslocamento social. Ela fez sua estreia em longa com As Virgens Suicidas, sobre cinco irmãs criadas em confinamento por seu pais conservadores. Já em Bling Ring: A Gangue de Hollywood, um de seus últimos trabalhos, as personagens são quatro garotas e um rapaz abastados que se divertem assaltando casas de celebridades.
Onde assistir: Bling Ring: A Gangue de Hollywood está no catálogo do Prime Video; Maria Antonieta e O Estranho que Nós Amamos estão disponíveis no Now.
Greta Gerwig
Mais uma das diretoras no seleto grupo lembrado pela Academia, Greta Gerwig, 35 anos, concorreu ao Oscar de melhor direção em 2018 por seu primeiro longa: Lady Bird. Na trama quase biográfia, a cineasta, natural de Sacramento — onde o longa é ambientado —, contou a história de uma jovem adolescente interpretada por Saoirse Ronan, cheia de sonhos para o futuro e impaciente por deixar a vida provinciana para trás. O segundo filme de Gerwig, Little Women, baseado no livro de Louisa May Alcott, deve ser lançado ainda neste ano.
Onde assistir: Lady Bird está disponível no Telecine Play.
Agnès Varda
Protagonista feminina da nouvelle vague, movimento com epicentro em Paris que revolucionou o cinema mundial, a cineasta belga Agnès Varda comungou em seus filmes também o olhar de fotógrafa e artista plástica. O documentário ensaístico As Praias de Agnès sintetiza sua brilhante trajetória — no longa, ela costura um imenso painel autobiográfico. Parte das reflexões sobre o tempo e a memória lembrando sua infância com a família, o exílio na França em meio à II Guerra, o início da carreira como fotógrafa e documentarista. Tira do baú de recordações fotografias a filmes caseiros e recria ficcionalmente situações emblemáticas sem registro. E comenta alguns de seus grandes filmes, como Cléo das 5 às 7, Sem Teto, Sem Lei e Os Catadores e Eu. Seu mais recente trabalho é Varda por Agnès, documentário aclamado no começo de 2019 no Festival de Berlim. Aos 90 anos, disse ser este o seu derradeiro filme. Mas com essa inquieta cineasta nunca de sabe o que vem pela frente.
Ava DuVernay
Iluminar e manter acesso o debate sobre o racismo candente na sociedade norte-americana é um cavalo de batalha de Ava DuVernay, 46 anos. Em Selma – Uma Luta pela Igualdade, a diretora encenou a histórica marcha liderada por Martin Luther King Jr. em 1965 para reivindicar o direito ao voto dos negros, episódio que marcou a luta pelos direitos civis nos EUA. Com o documentário A 13ª Emenda, Ava concorreu ao Oscar 2017 apresentando um impactante painel histórico e político acerca de iniciativas implementadas nos EUA após o fim da escravidão com o objetivo de manter a população negra marginalizada.
Onde assistir: Selma – Uma Luta pela Igualdade e Uma Dobra No Tempo estão disponíveis no Telecine Play; 13ª Emenda e Selma também estão na Netflix Brasil.