A carioca Marina Provenzzano, 31 anos, foi vista duas vezes nas telas nesta 46ª edição do Festival de Cinema de Gramado. E provocou uma impressão no público e em boa parte da crítica de que pode ser muito mais vista daqui para a frente.
Na noite de abertura, Marina estava misturada em cena ao grande elenco de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, filme que abriu o festival e que flagra cinco gerações de uma família proprietária de uma companhia circense. Marina vivia Charlotte, a filha do fundador, o aristocrata Fred, que monta o circo em 1910 como um presente a sua amada, a contorcionista Beatriz. Filha de ambos, a Charlotte já adulta de Marina era uma figura apagada tiranizada pelo marido, um mágico infiel (Vincent Cassel).
A surpresa com Marina se deu mesmo na noite de domingo, quando foi exibido Mormaço, filme protagonizado por ela e dirigido por Marina Meliande. A atriz vive Ana, uma jovem defensora pública que tenta impedir a remoção de uma comunidade durante as obras para as Olimpíadas do Rio. Ao mesmo tempo em que tenta buscar meios de legais de contrapor a truculência oficial, ela vai desenvolvendo uma misteriosa doença de pele que encaminha o filme para um final aparentado ao fantástico.
— É minha primeira protagonista em cinema. E ainda em um filme que tem um tom documental e mais adiante assume uma pegada fantástica, que eu amo. Foi uma conjuntura que me deram muito prazer do trabalho. — contou a atriz, em entrevista no Hotel Serra Azul, em Gramado.
Ela também está em um terceiro filme com lançamento previsto para este ano, Legalize Já, dirigido por Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, sobre os primórdios da banda Planet Hemp.
Carioca, nascida e criada na Zona Sul do Rio, Marina começou a fazer teatro aos 10 anos. Foi para a escola Tablado aos 14, e também passou pela Casa de Cultura Laura Alvim. Na universidade, formou-se em cinema. Também participa, no Rio de Janeiro, da trupe experimental Foguetes Maravilha. Sua estréia no cinema se deu no longa de Neville de Almeida A Frente Fria que a Chuva Traz (2016). Ela também já fez participações em séries para canais fechados, como Só Garotas e Me Chama de Bruna, para a Fox, mas ainda não atuou com regularidade na TV. Foi esse um dos elementos que levaram Marina Meliande – que já havia visto o trabalho da xará no teatro – a usá-la em seu filme.
— Eu tinha uma preocupação de ter uma protagonista com um rosto de certa forma novo. A Marina fez muito teatro, é muito experiente, mas não é um rosto conhecido, e eu queria um rosto que a gente pudesse revelar e também com quem o público pudesse se identificar. Acho que se a o filme fosse com uma atriz mais conhecida isso prejudicaria o impacto de identificação que eu buscava criar. — disse a diretora na coletiva seguinte à exibição do filme na manhã de segunda.
As duas personagens que Marina apresentou em Gramado são radicalmente diversas, mas tem uma afinidade clara no fato de que vivem tribulações gigantescas. A tímida Charlotte de O Grande Circo quase não fala em cena. Embora protagonista, a Ana de Mormaço tem longos planos calcados simplesmente no rosto expressivo da atriz e na tecitura sonora dos ruídos urbanos
— É engraçado. Eu brinco que, como atriz, eu sofro bem (risos). Quando vou fazer uma coisa, é muito importante para mim colocar meu corpo inteiro naquele estado do personagem, por mais que eu não fale nada. Mas sem também parecer que eu estou me esforçando para aquilo. E é estranho, porque tanto no Circo quanto no Mormaço quanto no Legalize são personagens que estão passando por uma coisa angustiante. Ando louca para fazer uma comédia (risos).