Dois cineastas que despontaram à frente da geração que injetou fôlego no cinema americano, nos anos 1970, Francis Ford Coppola e Martin Scorsese ingressaram no círculo de violência da máfia com imenso sucesso. Se Coppola consagrou a representação arquetípica copiada pelos criminosos da vida real em sua clássica trilogia O Poderoso Chefão, Scorsese também assinou sua obra-prima do gênero: Os Bons Companheiros (1990), que será analisada hoje pelo escritor Michel Laub no projeto Meu Filme Favorito.
A sessão é às 19h, nesta quinta-feira (05), no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440), com ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Na sequência, Laub, gaúcho radicado em São Paulo e autor de, entre outros livros, Diário da Queda e O Tribunal da Quinta-Feira, participa de um bate-papo com o público, mediado pelo jornalista e crítico de cinema Roger Lerina, idealizador do projeto.
Criado no bairro de Nova York conhecido como Little Italy, Scorsese cresceu íntimo da influência e ação do crime organizado entre a comunidade ítalo-americana – teve amigos e parentes tragados pela tentação do dinheiro fácil. Em Caminhos Perigosos (1973), o diretor já havia iluminado esse submundo.
Em Bons Companheiros, Scorsese renovou seu olhar sobre o baixo clero da bandidagem adaptando o livro-reportagem Wiseguys, de Nicholas Pileggi. Ray Liotta vive Henry Hill, sujeito que desde criança idolatra gângsteres proeminentes do bairro, como Jimmy Conway (Robert De Niro), Paulie Cicero (Paul Sorvino) e Tommy DeVito (Joe Pesci) – este venceu o Oscar de ator coadjuvante consagrando na galeria de grandes personagens do cinema um tipo sadicamente insano. Seduzido por aquele ambiente de poder e glamour, o pequeno marginal ascende na organização e embarca numa viagem sem volta, que Scorsese retrata com maestria – do vocabulário (contaram mais de 300 vezes em que é dito o palavrão fuck), à encenação (o plano-sequência na entrada do clube noturno dos mafiosos é algo espetacular), além de colocar sua própria mãe no papel de mãe do endiabrado DeVito.