A seleção de nove longas-metragens brasileiros para a competição por Kikitos na 46ª Festival de Cinema de Gramado, de 17 a 25 de agosto, tem como representante local o novo filme de um veterano realizador gaúcho. O diretor de animação Otto Guerra, nome referencial do gênero no país, vai apresentar seu aguardado Cidade dos Piratas, adaptação das tirinhas Piratas do Tietê, consagradas nos anos 1980 pela cartunista Laerte.
O anúncio dos concorrentes foi feito na manhã desta terça-feira (10) na Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, em cerimônia que contou com a presença de, entre outras autoridades, Edson Néspolo, presidente da Gramadotur, autarquia realizadora do festival, e do jornalista Marcos Santuário, que divide as atribuições da curadoria com o crítico Rubens Ewald Filho, e a diretora e produtora argentina Eva Piwowarski. Rubens, assim como Eva, não pôde vir à Capital, mas mandou um depoimento em vídeo:
— Tivemos dificuldade para selecionar tanto filme bom. Como pôr todos os bons na seleção? Um problema, mas tivemos que lidar com ele.
Foram recebidas 189 inscrições de longas e mais de 600 de curtas. Santuário complementou:
— Os filmes estão cada vez melhores. Temos tido mais trabalho. Cinema brasileiro e latino está crescendo não só em números. Queríamos mais espaço para mais filmes. Optamos por selecionar mais brasileiros por questões de qualidade, não temos um compromisso com número, aí nos deixamos levar pela qualidade, por isso mais brasileiros do que latinos. Mas a América Latina está representada com oito países, incluindo coproduções. Temos filmes que passaram em vários festivais.
Completam a boa lista de longas nacionais títulos assinados por realizadores reconhecidos: 10 Segundos Para Vencer (RJ), de José Alvarenga Jr., O Banquete (SP), de Daniela Thomas, Benzinho (RJ), de Gustavo Pizzi, Correndo Atrás (RJ), de Jeferson De, Ferrugem (PR), de Aly Muritiba, Mormaço (RJ), de Marina Meliande, Simonal (RJ), de Leonardo Domingues, e A Voz do Silêncio (SP), de André Ristum.
Filme de abertura será "O Grande Circo Místico"
A competição de filmes latinoamericanos reúne cinco longas: Averno (Uruguai/Bolívia), de Marcos Loayza, Las Herederas (Paraguai/Brasil/Uruguai/França/Alemanha), de Marcelo Martinessi, Mi Mundial (Uruguai/Argentina/Brasil), de Carlos Morelli, Recreo (Argentina), de Hernán Guerschuny e Jazmín Stuart, e Violeta al Fin (Costa Rica/México), de Hilda Hidalgo.
O Rio Grande do Sul tem um representante entre os 14 curtasmetragens que disputam a mostra nacional: Catadora de Gente (RS), de Mirela Kruel.
Com sessão fora de competição, o filme de abertura do Festival de Gramado será O Grande Circo Místico, de Carlos “Cacá” Diegues, que teve première mundial no Festival de Cannes, em maio passado. O novo longa do realizador de obras referenciais como Xica da Silva e Bye Bye Brasil é inspirado no poema de Jorge de Lima e traz na trilha canções de Chico Buarque e Edu Lobo. No elenco estão, entre outros, Antônio Fagundes, Jesuíta Barbosa, Mariana Ximenes, Juliano Cazarré e o francês Vincent Cassel.
Dois dos quatro nomes que serão homenageados na Serra já são conhecidos: o ator Ney Latorraca, que receberá o Troféu Cidade de Gramado, e o diretor de animação duas vezes indicado ao Oscar Carlos Saldanha, consagrado em Hollywood com sucessos como Rio e O Touro Ferdinando, a quem será entregue o Troféu Eduardo Abelin.
As personalidades ganhadoras do Troféu Oscarito e do Kikito de Cristal serão conhecidas nos próximos dias.
Um dos mais tradicionais certames cinematográficos do Brasil, o Festival de Gramado contará ainda com a segunda edição de um encontro voltado a profissionais do mercado audiovisual, sessões inclusivas para portadores de necessidades especiais, programação paralela em bairros da cidade e presença de uma delegação com profissionais e filmes da Itália, país convidado em 2018 na serra gaúcha.
Longas-metragens brasileiros
10 Segundos Para Vencer (RJ), de José Alvarenga Jr.
Cinebiografia do brasileiro bicampeão mundial de boxe Eder Jofre, interpretado por Daniel de Oliveira. O recorte cronológico acompanha o chamado Galinho de Ouro, da infância às conquistas dos históricos títulos, em 1960 (peso galo) e 1973 (peso pena). Jofre, hoje com 82 anos, faz uma participação especial no filme. Osmar Prado e Sandra Corveloni vivem os pais do pugilista. Direção de José Alvarenga Jr.
O Banquete (SP), de Daniela Thomas
Realizadora do recente e polêmico Vazante, Daniela Thomas apresenta em O Banquete uma estrutura teatral. Ao longo de um tenso jantar, personagens discutem episódios públicos e privados tensionados por um fato político de impacto: o impeachment de um presidente. Entre eles, estão o editor de um influente jornal na iminência de ser preso, uma diva do teatro, um advogado, uma crítica teatral, um colunista social e uma jovem atriz e modelo. Embora o contexto remeta à Era Collor, O Banquete também fala do Brasil de hoje. No elenco estão Drica Moraes e Caco Ciocler.
Benzinho (RJ), de Gustavo Pizzi
O segundo longa de Gustavo Pizzi traz no elenco nomes como Adriana Esteves, Cesar Troncoso, Karine Teles, Otávio Müller e Mateus Solano. Conta a história de uma família de classe média de Petrópolis, região serrana do Rio, que batalha para sustentar quatro filhos. O mais velho deles é um craque do handebol e recebe um convite para jogar na Alemanha, episódio que desencadeia uma afetiva crise familiar.
A Cidade dos Piratas (RS), de Otto Guerra
projeto que levou 25 anos para ser concluído, período cumprido entre falta de recursos, dedicação a outros trabalhos e 14 mudanças no roteiro. A animação adapta os personagens de Piratas do Tietê, criados em 1983 por Laerte para a revista Chiclete com Banana – publicada posteriormente como tirinhas de jornal. O tempo decorrido mudou a saga do Capitão e seus corsários, que reclamavam direitos sobre as terras da região do Rio Tietê, 500 anos após a chegada dos bandeirantes a São Paulo, abordando episódios recentes da história do Brasil e domando o tom politicamente incorreto do texto original.
Correndo Atrás (RJ), de Jeferson De
Um dos realizadores do chamado Dogma Feijoada, que defende, entre outros pontos, o protagonismo de profissionais negros à frente e atrás das câmeras em filmes de baixo orçamento, assim como temas relacionados à cultura afro-brasileira, Jeferson De despontou no cinema autoral nacional com seu primeiro longa, Bróder, em 2010. Correndo Atrás, baseado no livro Vai na Bola, Glanderson, do humorista Helio de La Peña, traz pequenas histórias cômicas com personagens que cumprem odisseias diárias para ganhar a vida. Lázaro Ramos, Ailton Graça e Rocco Pitanga estão no elenco. A trilha é assinada pelo rapper BNegão.
Ferrugem (PR), de Aly Muritiba
O longa de Aly Muritiba (de Para Minha Amada Morta) fez sua estreia mundial na mostra competitiva World Cinema, do Festival de Sundance 2018. Conta a história de Tati (Tiffanny Dopke) adolescente cheia de vida que gosta de compartilhar seus melhores momentos nas redes sociais. Mas a vida da garota vira do avesso quando algo que ela não queria compartilhar com ninguém cai no grupo de WhatsApp do colégio.
Mormaço (RJ), de Marina Meliande
Primeiro longa solo de Marina Meliande, integrante de um efervescente coletivo de criação responsável por obras de destaque como Desassossego (Filme das Maravilhas), A Alegria e A Fuga, a Raiva, a Dança, a Bunda, a Boca, a Calma, a Vida da Mulher Gorila. Selecionado para mostra principal do prestigiado Festival de Roterdã, na Holanda, Mormaço apresenta Ana (Marina Provenzzano), advogada carioca que vive um impasse diante de um novo amor, de uma doença misteriosa e da ameaça de despejo que paira sobre a comunidade para a qual trabalha, em razão dos Jogos Olímpicos do Rio.
Simonal (RJ), de Leonardo Domingues
A cinebiografia dirigida por Leonardo Domingues – é o primeiro longa do montador – ilumina a trajetória fulgurante e trágica do cantor Wilson Simonal (1938 – 2000), uma das maiores vozes da MPB. Fabrício Boliveira vive o artista que driblou a pobreza e a insegurança para se consagrar com sucessos como Nem Vem Que não Tem e Sá Marina. No auge da carreira, Simonal foi acusado de mandar torturar seu contador recorrendo a policiais do Dops, a polícia política da ditadura militar. O episódio marcou sua derrocada artística e pessoal.
A Voz do Silêncio (SP), de André Ristum
Marieta Severo e Marat Descartes são nomes de destaque no elenco do filme de André Ristum. A trama acompanha sete personagens aparentemente comuns de uma grande cidade que buscam algo que ainda traga satisfação em suas vidas.
Longas-metragens estrangeiros
Averno (Uruguai/Bolívia), de Marcos Loayza
Las Herederas (Paraguai/Brasil/Uruguai/França/Alemanha), de Marcelo Martinessi
Mi Mundial (Uruguai/Argentina/Brasil), de Carlos Morelli
Recreo (Argentina), de Hernán Guerschuny e Jazmín Stuart
Violeta al Fin (Costa Rica/México), de Hilda Hidalgo
Curtas-metragens brasileiros
À Tona (DF), de Daniella Cronemberger
Apenas o Que Você Precisa Saber Sobre Mim (SC), de Maria Augusta V. Nunes
Aquarela (MA), de Thiago Kistenmacker e Al Danuzio
Catadora de Gente (RS), de Mirela Kruel
Estamos Todos Aqui (SP), de Chico Santos e Rafael Mellim
Um Filme de Baixo Orçamento (SP), de Paulo Leierer
Guaxuma (PE), de Nara Normande
Kairo (SP), de Fabio Rodrigo
Majur (MT), de Rafael Irineu
Minha Mãe, Minha Filha (SP), de Alexandre Estevanato
Nova Iorque (PE), de Leo Tabosa
Plantae (RJ), de Guilherme Gehr
A Retirada Para Um Coração Bruto (MG), de Marco Antonio Pereira
Torre (SP), de Nádia Mangolini
Curtas-netragens gaúchos - Prêmio Assembleia Legislativa
À Sombra (Canoas), de Felipe Iesbick
O Abismo (Sapucaia do Sul), de Lucas Reis
Antes do Lembrar (Porto Alegre), de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes
Coágulo (São Leopoldo), de Jéssica Gonzatto
O Comedor de Sementes (São Leopoldo), de Victoria Farina
Um Corpo Feminino (Porto Alegre), de Thais Fernandes
Entre Sós (Porto Alegre), de Caetano Salerno
Fè Mye Talè (Encantado), de Henrique Both Lahude
A Formidável Fabriqueta de Sonhos Menina Betina (Pelotas), de Tiago Ribeiro
Gasparotto (Porto Alegre), de Zeca Brito
Grito (Santa Maria), de Luiz Alberto Cassol
Maçãs em Fogo (Porto Alegre), de Bruno de Oliveira
Movimento à Margem (Porto Alegre), de Lícia Arosteguy e Lucas Tergolina
Mulher Ltda (Canoas), de Taísa Ennes
Nós Montanha (Porto Alegre), de Gabriel Motta
Pelos Velhos Tempos (Porto Alegre), de Ulisses da Motta
Sem Abrigo (Porto Alegre), de Leonardo Remor
Subtexto (Caxias do Sul), de Cristian Beltrán
Vinil (Porto Alegre), de Catherine Silveira de Vargas e Valentina Peroni Freire Barata
O Viúvo (Porto Alegre), de Luiz Carlos Wolf Chemale