O Som Ao Redor, longa de Kleber Mendonça Filho que entrou na lista dos 10 melhores filmes de 2012 do jornal The New York Times, virou alvo do Ministério da Cultura. A produção arrebatou elogios por onde passou e colecionou diversos prêmios quando foi lançado. Passados cinco anos de seu sucesso, entretanto, o MinC encontrou uma irregularidade no edital que a produção venceu e está exigindo a devolução de R$ 2,2 milhões, que deveriam ter sido pagos até o último dia 9.
O Ministério alega que o longa venceu de forma irregular um edital de 2009, voltado para projetos que tivessem orçamento máximo de R$ 1,3 milhão. A Agência Nacional do Cinema diz ter recebido da produtora um orçamento inicial de R$ 1.494.991, já representando um valor 15% acima do estipulado e que, após vencer o concurso, ainda foi ajustado para R$ 1.949.690.
A produção acabou recebendo no final das contas R$ 1.709.978. A irregularidade aparentemente havia sido detectada pela divisão técnica da Ancine e reportada, em 2010, para a Secretaria do Audiovisual, que nada fez na época.
O advogado de Kleber Mendonça Filho se pronunciou sobre a polêmica, afirmando que a decisão é “desproporcional, injusta e excessiva”, e classifica a situação como um “equívoco de interpretação”. O diretor pernambucano também se defende, alegando que “o projeto não ultrapassou o valor de R$ 1,3 milhão de recursos federais”, evidenciando que o excedente (R$ 410 mil) veio de um edital do governo de Pernambuco. O cineasta ainda confirma que o acúmulo foi aprovado pela Ancine.
Protesto contra o atual governo
Kleber Mendonça Filho ficou conhecido também por ter lançado, em 2016, o aclamado longa Aquarius, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes. Na exibição do filme no festival francês, atores e membros da equipe técnica adentraram a sessão de gala segurando cartazes com os dizeres "Um golpe está acontecendo no Brasil", "54 milhões de votos foram queimados" e "Dilma, vamos resistir com você". O episódio aconteceu durante o impeachment da ex-presidente.
O cineasta é um duro crítico da administração de Michel Temer. No ano passado, ao participar como júri do Festival de Cannes, Kleber Mendonça se juntou aos crescentes pedidos de renúncia do presidente por acusações de corrupção.
— Há um ano, tínhamos certeza de que isso ia passar — disse Mendonça, diretor de Aquarius, em alusão aos protestos em massa que pediam a saída do presidente conservador, especialmente depois da divulgação da comprometedora gravação de Romero Jucá. — Agora é mais difícil prever o que irá acontecer porque a situação é muito confusa. É como se o pneu de um carro estivesse furado e o motorista não quisesse trocar, e sim continuar dirigindo — comentou o cineasta, que disse que Temer "deve sim" renunciar.