Foi marcada por protesto a primeira exibição do aguardado Aquarius, filme de Kleber Mendonça Filho (de O Som ao Redor), no Festival de Cannes. Segurando cartazes com os dizeres "Um golpe está acontecendo no Brasil", "54 milhões de votos foram queimados" e "Dilma, vamos resistir com você", atores e membros da equipe técnica adentraram a sessão de gala nesta terça-feira para apresentar o longa naquela que foi a sua primeira exibição pública.
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Dentro do Grande Teatro Lumière, nova manifestação: os artistas abriram uma faixa na qual se lia "Parem o golpe no Brasil". Um pouco antes, Aquarius fora exibido para a imprensa na sala Bazin. Os jornalistas que acompanham o evento e lotaram o espaço aplaudiram o filme, que é protagonizado pela atriz Sonia Braga e que também tem Humberto Carrão e Maeve Jinkings no elenco (o trio esteve presente nas sessões junto ao diretor).
Na trama, Sonia Braga vive Clara, uma crítica de música aposentada e viúva que está às turras com uma construtora com planos de demolir o prédio em que ela vive para criar um novo empreendimento. Denominado Aquarius, o edifício é o último remanescente de seu estilo em Boa Viagem, no Recife. A especulação imobiliária, a condição da mulher e as desigualdades sociais são temas centrais do longa, conforme as primeiras avaliações dos críticos presentes em Cannes.
"Algumas cenas são memoráveis", escreveu Jordan Mintzer, na Hollywood Reporter, comparando Aquarius ao longa chileno Gloria (2013), de Sebastián Lelio. No site Cinema Escrito, o crítico pernambucano Luiz Joaquim traçou um paralelo entre a première do novo longa de Kleber Mendonça Filho, poucos dias após a sessão do Senado que afastou temporariamente a presidente Dilma Rousseff, às primeiras exibições do clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, lançado à época do golpe militar no país.
Aquarius é o primeiro filme brasileiro a concorrer à Palma de Ouro, o principal prêmio de Cannes, apontado como o maior festival do mundo, desde 2008, quando o país esteve representado por Linha de Passe, de Walter Salles, e Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles. Em 2012, a coprodução internacional Na Estrada, de Salles, também concorreu ao troféu. A única vez que o Brasil venceu a Palma de Ouro foi em 1962, com o filme O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.