Primeiro e mais importante museu público de arte do Estado, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) teve suas portas reabertas aos visitantes na tarde desta sexta-feira (6), sete meses depois de ter o andar térreo alagado pela enchente de maio e 70% de seu acervo artístico ter sofrido algum dano por causa da água.
O retorno traz uma exposição simbólica, que dialoga com o drama jamais enfrentado, e poderá ser conferida até 9 de março de 2025, gratuitamente.
Ocupando o primeiro andar expositivo, Post Scriptum — Um Museu como Memória exibe cerca de cem obras de arte, sendo que 50 foram danificadas pela lama ou pela umidade dentro do prédio. As demais são peças que ampliam os sentidos sobre a enchente, a água, o prédio do Margs e a Praça da Alfândega, onde se situa o museu.
Pensando em mostrar como funciona o trabalho de recuperação de uma obra de arte, a exposição não só exibe as que já voltaram ao seu estado original como coloca diante do público conservadores-restaurantes atuando para recuperar as peças que ainda precisam de atenção. São profissionais contratados especificamente para a função.
— Foi um desejo nosso trazer isso a público, atendendo a uma curiosidade e dando uma satisfação sobre o trabalho realizado, que é um trabalho de bastidor. O processo de restauração de algumas obras vai se desenvolver durante o período da exposição — diz o diretor-curador do Margs, Francisco Dalcol.
Obras em papel foram as mais afetadas
Das obras afetadas, a maior parte é do acervo em papel, sendo mil desenhos, 300 fotografias e 2,4 mil gravuras. Além disso, cerca de cem pinturas, 70 esculturas e 150 peças de técnicas mistas também foram atingidas. A recuperação desses objetos e da estrutura danificada do prédio do museu custou em torno de R$ 8 milhões. Boa parte do valor foi aportada pelo Banrisul.
Presente na cerimônia de reabertura, a secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo, ficou emocionada ao lembrar os dias em que a enchente invadiu o museu e só se chegava ao prédio de bote.
— Tenho certeza de ter desenvolvido um trauma do que vivenciei naqueles momentos. Era uma sensação de impotência — declarou. — Ao mesmo tempo, havia um senso de responsabilidade em salvar algo que, naquele momento, não era importante para a maioria dos gaúchos, afinal, todos estavam preocupados em salvar vidas. Vinha para cá, de bote, para garantir que o museu tivesse segurança, e tínhamos medo de saques. Foi um trabalho insano.
A amarga lição que a enchente deixou para o Margs diz respeito à manutenção da reserva técnica. Fundado em 1954 e sediado no prédio da antiga Delegacia Fiscal desde o fim dos anos 1970, o museu sempre guardou seu acervo no térreo do prédio, que foi completamente tomado pela água. A partir de agora, as peças ficarão nos andares superiores, garante Dalcol.
Post Scriptum — Um Museu como Memória
- Exposição de reabertura do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, s/n°), em Porto Alegre.
- Visitação de terça a domingo, das 10h às 19h.
- Entrada gratuita.