Alagado pela enchente de maio e fechado desde então, o prédio do Memorial do Rio Grande do Sul só deverá reabrir ao público no segundo semestre de 2026. Uma reforma que já estava prevista para acontecer antes do pavimento térreo ser tomado pela água sairá do papel em janeiro, com previsão de durar 18 meses. Com isso, o espaço não poderá participar da 14ª Bienal do Mercosul, a partir de março do próximo ano.
Erguido em 1914 na Praça da Alfândega, o prédio foi construído para ser sede dos Correios e Telégrafos. Tornou-se um dos principais pontos culturais do Estado, e um dos mais valorizados por sua arquitetura histórica, obra do alemão Theodor Wiederspahn. Simultaneamente, ele também criou o "gêmeo" do Memorial, o prédio do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), que fica ao lado e abrigou originalmente a Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional.
A cheia tomou por completo o térreo do Memorial, atingindo 1m70cm. É neste primeiro pavimento que fica sediado o Espaço Cultural dos Correios, que mantém acervos históricos e está sob responsabilidade da estatal.
A subestação de energia elétrica, onde ficam os transformadores e disjuntores, passou por completa restauração. Os dois elevadores também tiveram perda total e ainda não foram recuperados.
Diretora do Memorial do RS, Sylvia Bojunga diz que, para deixar o térreo como era antes da inundação, ainda serão necessárias obras de recuperação dos pisos, paredes, forros, vidros e esquadrias. A essa demanda se soma a longa reforma nas partes elétrica, hidráulica e de climatização de todo o edifício de quatro andares, acertada desde 2023, graças a recursos garantidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, que vai reformar outros prédios do Estado.
A lástima é que o Memorial do RS não poderá participar da Bienal, evento que oferece uma megaexposição de obras de arte de diversos artistas da América Latina em diferentes espaços de Porto Alegre, de 27 de março a 1° de junho de 2025. Contudo, Sylvia planeja atividades fora do prédio, ocupando, quem sabe, até mesmo a Praça da Alfândega. E não descarta fazer ações pontuais dentro do espaço, mediante agendamento, como aconteceu após a enchente.
— Tinham artistas da Bienal que queriam colocar suas obras no Memorial, porque é um espaço muito legal, mas não tem condições. O que não significa que vamos deixar de fazer coisas. Fazer atividades na Praça da Alfândega é um de nossos objetivos. Há muita história naquela praça. Nossa intenção é oferecer ações pontuais para pequenos grupos. Neste momento estamos planejando essas atividades. O que não poderemos ter, durante a obra, serão as grandes exposições ou os eventos para um público mais amplo — diz.
Como o Memorial do RS não possui um acervo museológico e destina-se apenas a sediar exposições, não houve risco de perdas na enchente para além dos danos ao prédio. O Espaço Cultural dos Correios, contudo, teve documentos afetados, além de equipamentos, mobiliário e materiais que não puderam ser realocados a tempo. As peças estão aos cuidados dos Correios e deverão ser restauradas pela estatal.
Arquivo Histórico mantém atividades sob agendamento
Além do Memorial do RS e do Espaço Cultural dos Correios, o prédio abriga outras duas instituições: o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e o Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, ambos geridos pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). Assim como o Memorial, o museu também ficará sem oferecer atividades internas para o público.
O arquivo, contudo, permanecerá funcionando mediante agendamento, como tem sigo agora. Segundo a diretora, Ananda Simões Fernandes, é importante manter o espaço aberto para que pesquisadores possam acessar os documentos lá mantidos — são materiais do poder executivo que remontam ao século 18, incluindo dados sobre episódios importantes, como arquivos do aparelho repressor da ditadura militar.