Imagens daquele que é considerado o fotógrafo pessoal de Erico Verissimo estarão estampadas no Muro da Mauá, em Porto Alegre, a partir da próxima semana. A Porto Alegre de Erico contará com cerca de 10 painéis com fotografias de Leonid Streliaev mostrando a cidade vivenciada pelo autor de O Tempo e O Vento e retratada em alguns de seus livros. Também incluirá retratos do escritor e trechos de suas obras.
Leonid Streliaev foi próximo de Erico, o qual fotografou para reportagens da revista Veja e também para imagens que ficaram em seu acervo pessoal. Após a morte do escritor, em 1975, outro ícone da literatura gaúcha, Josué Guimarães, de É Tarde Para Saber (1977), convidou Streliaev para ilustrar um livro recheado de trechos em que Erico menciona Porto Alegre em suas obras.
Guimarães e Streliaev lançaram em parceria A Porto Alegre de Erico (1980), mesmo título da obra que estampará o Muro da Mauá ao longo de 750 metros, entre o fim da linha do Trensurb e o estacionamento do Cais Embarcadero. A montagem inicia na próxima segunda-feira (23) e deve ser concluída até sexta-feira (27), quando inicia a 69ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Concepção do projeto
Diretora do núcleo cultural do projeto do Novo Muro da Mauá, Rafaella Ferreira queria apostar na literatura para a reforma do paredão construído para conter as águas do Guaíba. Ao deparar com o livro feito em parceria entre Guimarães e Streliaev, ficou encantada e o usou como inspiração. A homenagem a Erico permanecerá até fevereiro de 2024.
— Há bastante de tempo, já estava querendo falar sobre literatura. E a obra de Erico Verissimo sempre me encantou. Todo mundo deveria ter acesso. Fico pensando nas novas gerações, acho que deveriam conhecê-lo. Todo mundo deveria ter acesso a esse livro que está retratando a cidade onde a gente vive — avalia Rafaella.
Para o Muro da Mauá, Streliaev usou fotografias de Erico e de lugares de Porto Alegre que não foram publicadas no livro. As imagens mostram uma cidade menos óbvia do que a dos cartões postais que apresentam o pôr do sol do Guaíba. O lago também foi contemplado, mas, além dele, há o bairro Petrópolis, onde Erico viveu, entre outros lugares que são especiais para os moradores. O design gráfico é assinado por Rafael Braga.
— As fotos não são da Porto Alegre dos anos 2000, e sim da Porto Alegre dos anos 1970 e 1980. É realmente o olhar do Erico. Óbvio, com o recorte do olhar do Leonid — reforça Rafaella, responsável por fazer a curadoria das fotos que serão estampadas no muro.
Após a morte de Erico, Streliaev saiu de carro pelo Rio Grande do Sul para retratar cenários que remetem à saga de O Tempo e o Vento. A viagem durou três meses e resultou no livro O Rio Grande de Erico (2005), que teve nova edição em 2021. O fotógrafo se considera um bom intérprete das palavras do homem com quem conviveu quase estreitamente, inclusive frequentando sua residência.
— O Erico se autodenominava um retratista. Ele dizia que retratava os cenários reais e criava os personagens imaginários. Isso, para mim, é o resumo de sua obra. Tenho orgulho de ter podido retratar um pouco do que ele retratou. O que ele retratou em palavras, eu retratei através do meu olhar e da câmera — resume Streliaev.