O pintor e escultor colombiano Fernando Botero, um dos artistas latino-americanos mais influentes do século 20, morreu aos 91 anos, anunciou o presidente colombiano, Gustavo Petro, nesta sexta-feira (15). A causa da morte não foi informada.
"Morreu Fernando Botero, o pintor das nossas tradições e imperfeições, o pintor das nossas virtudes. O pintor da nossa violência e da paz", escreveu Petro na rede social X, antigo Twitter.
Segundo a imprensa colombiana, a saúde de Botero piorou nos últimos dias, devido a uma pneumonia. O artista morreu em sua casa em Monte Carlo, no principado de Mônaco.
O artista colombiano mais valorizado no mundo, Botero tinha como marca de suas pinturas e esculturas a retratação de figuras voluptuosas, principalmente femininas. Suas estátuas estão expostas em cidades do mundo inteiro, como Nova York, Barcelona e Buenos Aires.
Em entrevista em 2014, ele explicou sua visão.
— Não pinto gordas. Ninguém acredita em mim, mas é verdade. Eu pinto volumes. Quando pinto uma natureza morta, também pinto com volume, se pinto um animal, ele também será volumoso, se pinto uma paisagem, igual — afirmou ao jornal espanhol El Mundo. — Sou atraído pelo volume, a sensualidade da forma. Se pinto uma mulher, um homem, um cachorro ou um cavalo, o faço sempre com a ideia do volume, mas não é que eu tenha uma obsessão pelas mulheres gordas.
Trajetória
Botero nasceu em 19 de abril de 1932 em Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia, localizada nos Andes do noroeste do país. Filho de um modesto trabalhador do comércio, iniciou na arte precocemente e contra a vontade da família. Aos 15 anos, vendia desenhos com temas de touradas na entrada da Plaza de Toros La Macarena.
Após uma primeira exposição em Bogotá nos anos 1950, partiu para a Europa, passando por Espanha, França e Itália, onde descobriu a arte clássica. Sua obra também foi influenciada pelo muralismo do México, onde mais tarde se estabeleceu. A carreira dele decolou nos anos 1970, após conhecer Dietrich Malov, diretor do Museu Alemão, em Nova York, com quem organizou exposições de sucesso.
O artista, que dizia que nunca sabia o que pintaria no dia seguinte, inspirou-se na beleza, mas também nos problemas de seu país, afetado por um conflito armado de mais de meio século. Assim, sua obra mostra cenas de guerrilhas, atentados e matanças.
Artista latino-americano mais vendido em vida, Botero bateu o próprio recorde em 2022, quando a escultura Hombre a Caballo alcançou US$ 4,3 milhões (R$ 22,43 milhões na cotação da época), em um leilão da casa Christie's.
Ele também foi um importante patrocinador da arte, com doações estimadas em mais de US$ 200 milhões (mais de US$ 1 bilhão). O artista doou muitas de suas obras para museus de Medellín e Bogotá, que em 2012 foram declarados bens de interesse cultural pelo governo.
O legado de Botero, que inclui mais de 3 mil pinturas e 300 esculturas, foi pautado por sua insaciável sede de criação. Nos últimos anos, trabalhou 10 horas por dia. A mera ideia de abandonar os pincéis "me aterroriza mais do que a morte", disse ele.
Vida pessoal
Radicado na Itália, ele passou os últimos anos entre Mônaco e Nova York, onde tinha residências, e retornava a cada janeiro à sua fazenda nos arredores de Medellín.
Casado três vezes e viúvo da última esposa, a escultora grega Sophia Vari, que morreu em maio, Botero enfrentou o luto pela morte de um dos filhos, de apenas quatro anos, após um acidente de trânsito. Mais tarde, outro filho se envolveu em um escândalo de corrupção.