Por Francisco Dalcol
Diretor-curador do Margs
O acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), guarda mais de 5,7 mil obras de arte do século 19 à atualidade, de artistas brasileiros e estrangeiros. Abrange, assim, desde produções regidas pelos modelos acadêmicos, passando pelas rupturas das manifestações dos modernismos em diferentes geografias, até chegar à pluralidade dos desdobramentos operados pelas práticas artísticas contemporâneas.
Em operação desde 2019, Acervo em Movimento é um programa expositivo concebido para trazer a público esse rico e diversificado acervo, por meio de uma exposição de longa duração que se vale da estratégia de rotatividade do que está exposto. Assim, obras entram e saem da exposição com o objetivo de manter uma renovação frequente e constante do conjunto em exibição.
O modelo de exposição recombinante lança mão de um processo curatorial de caráter experimental. Cada mudança – em parte ou no todo da mostra – opera o que passamos a denominar como “nova virada da exposição”, sendo sempre concebida como uma resposta à configuração anterior e por vezes até às outras exposições no mesmo momento em exibição no museu, estabelecendo diálogos com as demais salas e galerias.
Com a estratégia de rotatividade das obras expostas, as substituições geram recombinações que procuram propor novas relações e chaves de compreensão, oferecendo ao público uma exposição sempre viva e dinâmica, que aposta mais na experiência da descoberta do que na orientação do discurso.
O interesse é sondar as provisórias relações de vizinhança estabelecidas entre as obras. Parte-se do entendimento de que obras de arte não “falam” apenas por si mesmas, uma vez que seus sentidos são também efeito do que podem produzir no interior dos territórios relacionais e narrativos que uma exposição é capaz de colocar em causa.
Assim, a exposição Aquisições 2019-2022, em cartaz no museu, pergunta ao visitante: quais podem ser as relações entre trabalhos distintos e de diferentes épocas, contextos e linguagens?
O convite é que o público constitua os seus caminhos interpretativos, estabelecendo os seus próprios encontros, relações e conexões, os quais sempre envolvem o que já sabemos, a expectativa do que ainda não vislumbramos e o estranhamento transformador da experiência inesperada e arrebatadora.
Com Aquisições 2019-2022, o programa Acervo em Movimento entra em uma fase cujo enfoque é apresentar obras que nos últimos quatro anos ingressaram no acervo do Margs. Nesse período, mais de 400 trabalhos foram adquiridos pelo museu, englobando técnicas, suportes e tipologias diversificadas da produção em artes visuais, desde o século 19 à atualidade, de artistas brasileiros e estrangeiros. Essas aquisições se deram de três modos: doação por parte de artistas, particulares e instituições; compra por meio da Associação de Amigos do Margs; e transferência entre museus da Sedac.
Para oferecer uma amostragem das Aquisições 2019-2022, esta nova fase de Acervo em Movimento terá seis meses de duração, com dois momentos distintos: um primeiro recorte apresentado a partir deste mês de dezembro de 2022, seguido de um segundo recorte a partir de março de 2023, que resultará de uma “virada” na exposição com substituições de obras, permanecendo em exibição até junho do próximo ano.
O que define um museu como sendo museu é o fato de ter um acervo sob sua guarda. Além do compromisso precípuo de preservar, pesquisar e difundir esse acervo, colecionar é também uma de suas responsabilidades. Responsabilidade que gera, portanto, uma dinâmica de constante ampliação do acervo, a qual demanda ao menos dois compromissos permanentes para assegurar a expansão em condições adequadas: capacidade de armazenagem, juntamente a critérios rigorosos para definir as obras que venham a ingressar.
Em anos recentes, o Margs abriu duas novas reservas técnicas adaptando espaços em suas instalações. E, em 2019, instituiu o Comitê de Acervos – juntamente ao Comitê de Curadoria –, cuja atribuição é assessorar a política de aquisições analisando as propostas em termos técnicos, conceituais, teóricos e históricos.
Com a ocupação do 1º andar expositivo do Margs, Acervo em Movimento sela um reencontro simbólico, pois foi nesse mesmo espaço que o programa estreou, marcando o início da gestão 2019-2022. Desde então, passou a circular pelo museu, ocupando diferentes salas e galerias. E sempre com o mesmo compromisso e responsabilidade: implementar uma política de exibição permanente dedicada à apresentação pública do acervo do Margs.
O projeto
Aquisições 2019-2022 é uma mostra dividida em duas partes dentro do programa Acervo em Movimento. São apresentadas mais de cem obras de mais de 60 artistas, de Aldo Locatelli a Tomie Ohtake, que integraram o acervo do museu desde 2019, a primeira parte delas até março e a segunda, até 11 de junho de 2023. No período, mais de 400 trabalhos foram adquiridos pelo Margs, que agora tem mais de 5,7 mil obras catalogadas. No 1º andar do museu, que fica na Praça da Alfândega, s/nº, em Porto Alegre, de terça a domingo, das 10h às 19h (último acesso às 18h), com entrada gratuita.