Imagine a música gaúcha sem gaita? E o forró sem sanfona? Um sertanejo sem acordeom? Quando as fábricas de gaitas começaram a minguar no Brasil, o instrumentista Renato Borghetti deu início ao projeto Fábrica de Gaiteiros, que tem sede na Barra do Ribeiro, mas acabou se espalhando para 15 unidades de ensino em outras cidades do Estado.
Desde 2010, a iniciativa ensina crianças e adolescentes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina a arte da gaita ponto, além de fabricar o instrumento. Agora, o projeto é também exposição itinerante: desta quinta-feira (17) até o dia 27 de março, a mostra Fantástica Fábrica de Gaiteiros ocupará o 5º andar da Casa de Cultura Mario Quintana.
Logo ao entrar na exposição, o público depara com uma banda composta por um quarteto de bonecos de madeira articulados: um simula tocar piano, outro é gaiteiro, há um com violão e, por fim, um flautista. Também há painéis contando a história da gaita, apresentando mestres do instrumento – como Berenice Azambuja, Irmãos Bertussi e Dominguinhos – e de sua fabricação.
Na mostra, o visitante conhece diferentes tipos de acordeom, o que inclui uma gaita com os botões em braile e até a famosa gaita de Leonardo da Vinci. Ao lado do luthier Rogério Guimarães e da equipe da Fábrica de Gaiteiros, Borghetti montou o instrumento projetado pelo gênio renascentista. A arte que decora o objeto é da filha do músico, Emily Borghetti. Além disso, há um simulador de gaita para o público arriscar umas notas.
– Tenho um carinho e um cuidado muito grande com tudo ali. Tudo o que se faz é pensando na gurizada, o que se aplica para a exposição, que é pensada para o olhar da criançada – destaca Borghetti.
Um dos maiores músicos da história do Estado, sendo o primeiro Disco de Ouro da música instrumental brasileira (Gaita Ponto, de 1984) e reconhecido internacionalmente, Borghetti é categórico sobre a Fábrica de Gaiteiros: é o projeto de sua vida. O instrumentista lembra que a iniciativa nasceu da necessidade.
– As fábricas de gaita estavam sendo desativadas no Brasil inteiro. Tínhamos dezenas delas há 50 anos, mas foram todas parando. Hoje tem uma, que é em Tuparendi. Me acendeu um sinal de alerta. Acordeom europeu que chegava ao país era muito caro – recorda.
No entanto, Borghetti garante que nunca quis virar um empresário no ramo de acordeom. Sua intenção é apenas tocar o instrumento. Toda produção da Fábrica de Gaiteiros é destinada às crianças e ao estudo do instrumento.
Borghetti frisa que o principal objetivo do projeto sempre foi utilizar a música como ferramenta de cidadania, inclusão e autoestima. Só que a Fábrica de Gaiteiros já produziu seus músicos.
– Pensava que se daqui a cem anos alguém se perguntasse porque tem tanto tocador de gaita no sul do Brasil, a resposta seria: ah, culpa de um cabeludo louco que inventou um projeto. Imaginei que isso levaria cem anos, mas já está acontecendo. Os alunos aprendem muito rápido. Já há aqueles que vivem de música, embora não fosse esse o objetivo da Fábrica – vibra o instrumentista.