A Fundação Iberê Camargo (FIC) inaugura duas grandes exposições neste sábado. Se o Paraíso Fosse Assim tão Bom é a primeira individual da inglesa Cecily Brown no Brasil. Já Ateliê de Gravura: da Tradição à Experimentação é um olhar da Fundação para o seu próprio acervo de gravuras. As duas mostras abrem a programação anunciada para 2019, recheada de pesos-pesados da arte brasileira – figuras como Daniel Senise, Vik Muniz, José Bechara e Artur Lescher, que, somadas, apontam para um novo momento da Fundação Iberê Camargo. Após mais de dois anos funcionando só aos finais de semana, em março a sede passa a abrir de quarta-feira a domingo.
Quem capitaneia a mudança é o diretor superintendente Emilio Kalil, que promete manter e expandir a efervescente programação que a Fundação consolidou aos finais de semana. Gaúcho, Kalil atuou por 40 anos com produção e gestão cultural no Rio de Janeiro e São Paulo. Essa experiência, segundo ele, foi fundamental para agora poder trazer a Porto Alegre exposições como a de Cecily Brown, que antes passou pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba:
– É função do diretor de uma instituição como esta estar atento às oportunidades. Se tem uma exposição importante passando pelo país, não vou deixar de trazer só porque quero fazer outra coisa. São esses 41 anos fazendo isso que me dão condições de estar conectado com outras instituições, de fazer e receber propostas – diz Kalil.
Até a chegada desta mostra, a obra de Cecily Brown nunca havia sido vista no Brasil. A artista londrina começou a produzir nos anos 1990, na Inglaterra, quando pintar era estar na contramão das tendências artísticas. Mudou-se para Nova York, mas ainda levaria mais de uma década até que os maiores museus a entendessem como uma das grandes pintoras da atualidade. Hoje, suas obras estão nas principais coleções do mundo e seu currículo inclui mostras individuais em instituições do porte de Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, Macro, em Roma, e Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, em Washington.
Segundo Ricardo Kugelmas, dono do espaço cultural paulistano Auroras e idealizador da mostra, a iniciativa preenche uma lacuna:
– O Brasil recebe pouquíssimas exposições de artistas contemporâneos estrangeiros. Custa caro e é mais fácil conseguir patrocínio para nomes famosos, como Picasso e Frida Kahlo, já que o cara que assina o cheque numa empresa não sabe de quem você está falando. Mas é essencial para os artistas brasileiros terem contato com o que está sendo produzido agora.
Com a curadoria de Paulo Miyada, Se o Paraíso Fosse Assim tão Bom é composta por 16 pinturas e oito desenhos sobre um tema recorrente na história da arte, o paraíso. Cecily costuma buscar inspiração em quadros de antigos mestres, como Bosch, Rubens e Delacroix. Copia suas figuras em desenhos que depois transforma em grandes pinturas. Um olhar rápido verá só manchas de cores, mas, aos poucos, rostos e corpos vão se revelando entre a tinta. O que interessa a artista é a tensão entre abstrato e figurativo:
– O exercício dela é ver o quão distante da figura consegue ir. Ela se considera uma pintora figurativa, mas o fundo às vezes está na frente da figura. São várias camadas que você vai descobrindo – analisa Kugelmas.
Vários títulos dos trabalhos vêm de poemas de Emily Dickinson. São novas pistas para o jogo que Cecily propõe ao observador.
Mostra valoriza patrimônio de obras criadas por artistas convidados ao Ateliê de Gravura
No mesmo dia, um andar acima, a FIC inaugura Ateliê de Gravura: da Tradição à Experimentação. A curadoria é de Eduardo Haesbaert, artista e coordenador do Ateliê de Gravura da instituição, que, entre 2001 e 2018, recebeu artistas brasileiros e estrangeiros para trabalhar com a prensa que pertenceu a Iberê Camargo. Obras de 98 deles, além do próprio Iberê, estarão na mostra, incluindo o arquiteto português Álvaro Siza, que projetou a sede da FIC, o argentino Jorge Macchi e cerca de 30 nomes gaúchos, de Walmor Corrêa a Jander Rama.
– Vamos mostrar pela primeira vez a produção do ateliê de gravura. Estamos falando de cem gravuras que nunca foram apresentadas juntas. Abrir o ano com uma seleção do acervo é valorizar o que é nosso. É valor imenso que deve ser usado, exposto, visto e estudado – comenta o diretor superintendente da Fundação.
Se o Paraíso fosse Assim tão Bom
- Mostra com 16 pinturas e oito desenhos da inglesa Cecily Brown.
- Visitação: terceiro andar, de 26 de janeiro a 17 de março.
- Curadoria de Paulo Miyada.
Ateliê de Gravura: da Tradição à Experimentação
- Mostra com 104 obras de artistas brasileiros e estrangeiros que já foram convidados a trabalhar no Ateliê de Gravura de Iberê Camargo.
- Visitação: quarto andar, de 26 de janeiro a 10 de março.
- Curadoria de Eduardo Haesbaert.
Abertura: neste sábado, às 14h, para as duas exposições.
- Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000).
- Visitação das 14h às 19h (último acesso às 18h45min), no sábado e no domingo, com entrada franca.
- Também segue em cartaz Náufragos na Correnteza do Tempo, de Denise Gadelha. Veja a programação completa do final de semana no site iberecamargo.org.br.