A articulação entre arte, feminismo e emancipação será o eixo central da 12ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, que será realizada em 2020. Diretor-presidente da Fundação Bienal do Mercosul e presidente da diretoria executiva da mostra, Gilberto Schwartsmann anunciou nesta quarta-feira, em coletiva, o nome da curadora da mostra: a argentina Andrea Giunta, pesquisadora, escritora e professora com longa e consistente carreira internacional, voltada sobretudo às discussões sobre arte e o feminino e a arte latino-americana.
A proposta de Andrea Giunta, explicou Schwartsmann, é abordar o tema do feminino tanto na exposição quanto nas atividades que serão desenvolvidas nos próximos dois anos. Ao receber o convite, Giunta propõs que a mostra se tornasse menos regional e mais “planetária”.
– É uma bienal que apresenta enormes desafios, uma vez que aborda uma questão urgente para a arte e para a sociedade – afirmou Schwartsmann durante a entrevista, realizada no Memorial.
Membro da diretoria executiva da Bienal do Mercosul, a desembargadora aposentada Maria Berenice Dias, especializada em direito de família e defensora dos direitos homoafetivos, destacou a importância das reflexões propostas pela mostra.
– Nós, mulheres, somos artífices das mudanças que estão acontecendo no mundo. Todo o universo feminino, incluindo o universo trans. Mas, muitas vezes, somos relegadas à invisibilidade. É muito importante trazer um foco e uma luz a este segmento muito mais vulnerável e excluído da nossa sociedade – ressaltou.
Maria Berenice Dias destacou também a importância da presença, na diretoria da Bienal do Mercosul, da ativista do movimento trans Gloria Crystal.
– A arte existe quando a vida não dá conta – destacou Maria Berenice Dias.
Schwartsmann afirmou que as pessoas “entram e saem”, mas as instituições permanecem e, por isso, devem ser maiores que os indivíduos. Precisam exercer uma missão global, dentro da qual é imprescindível trazer ao centro das atenções para questões pouco visíveis, mesmo aquelas desconfortáveis de serem encaradas, como a exclusão histórica da expressão artística de determinados grupos.
– Para haver mudanças é preciso bater e bater nas teclas, até quebrar certas barreiras e preconceitos – completou Schwartsmann.
O diretor-presidente da Bienal disse já ter conhecido inúmeros jovens que desejam continuar trabalhando na cadeia produtiva da arte, mas encontram “um futuro cinza” pela frente. Nesta campanha eleitoral, lamenta, quase nunca se falou em cultura nos debates.
– Foram duas ou três vezes, e de uma forma muito “lateral”. É um indício muito preocupante – finalizou.
Evento abre programação em novembro
O que é arte? O que é feminismo? O que queremos dizer com emancipação? Na opinião da curadora da próxima Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Andrea Giunta, essas questões não podem ser respondidas de forma absoluta. Para a pesquisadora argentina, sua curadoria não parte de uma certeza do que significam os termos-chave propostos para a próxima Bienal.
– Vamos problematizar essas noções e ampliar seus significados para redefini-los – afirma.
Como primeira atividade de discussão dos temas da 12ª Bienal do Mercosul, será realizado no próximo dia 6 de novembro, dentro da programação oficial da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre, o seminário Arte, Feminismos e Emancipação, com a presença da curadora, artistas, pesquisadores e outros profissionais ligados à arte.
O objetivo do seminário é desdobrar campos de conhecimento que se cruzam com poéticas, ativismos da imagem e do corpo. Partindo do princípio que o feminismo é uma maneira de entender o mundo, um campo de conhecimento não excludente. As mesas do seminário foram concebidas como o desdobramento de uma agenda de questões discutidas no campo da arte, cultura e direito. Para a curadora, Porto Alegre tem tudo para funcionar como uma espécie de “caixa de ressonância” das questões que devem ser debatidas na Bienal:
– O lugar das mulheres e todas as dissidências (sexuais, culturais, não normativas, de classe, de raça) na cultura e na sociedade contemporânea. Feminismos, mais que feminismo – acrescenta.
Andrea Giunta tem ampla experiência na arte latino-americana no cenário internacional, em exibições, ensaios de revistas especializadas e catálogos de exposições, ensino e investigação acadêmica. Seus campos de interesse incluem a arte do século 20 e 21 da América Latina e do mundo. É autora de diversos ensaios a respeito de arte latino-americana, memória e política, o poder das imagens – particularmente sobre a obra Guernica, de Picasso – e a relação entre arte, gênero e feminismo na América Latina. É pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas da Argentina e professora na Universidade de Buenos Aires. Foi catedrática em história da arte e crítica latino-americana na Universidade do Texas em Austin, onde também foi diretora fundadora do Center for Latin American Visual Studies.
Programação do seminário
- 10h: apresentação, com Andrea Giunta e Igor Simões.
- 10h30min: Políticas do conhecimento - Os discursos da lei, o ativismo trans e a história da arte escrita em primeira pessoa, com Maria Berenice Dias, Gloria Crystal, Roberta Barros e Andrea Giunta.
- 14h: Poéticas do corpo. Arte e ativismo - A redefinição do feminismo nas redes do ativismo contemporâneo, a política do corpo e formas de ativismo artístico com Alice Porto e Julha Franz.
- 15h30min: Exclusão e inclusão no âmbito da arte brasileira - Sessão discute se estão em processo de mudança os critérios excludentes da história da arte brasileira que tornaram os artistas invisíveis por razões de gênero e raça, com Claudia Paim, Rosana Paulino, Igor Simões e Andrea Giunta.
- 16h30min: Performances de Claudia Paim e Julha Franz.
- QUANDO: dia 6 de novembro de 2018, dentro da programação da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre.
- ONDE: Biblioteca do Clube do Comércio (Rua dos Andradas, 1085 – 3º andar).