Até quantas horas você conseguiria maratonar sua série preferida? E se, em vez da série, fosse a programação de uma emissora, mais especificadamente da TV Globo, durante 24 horas? E se, em vez de apenas assistir, você recriasse tudo aquilo que está passando no canal? Essa prova de resistência – mais árdua do que qualquer uma que tenha sido proposta em um Big Brother Brasil – foi realizada no palco do Teatro Renascença, entre domingo e ontem.
A partir do início do Fantástico, em torno das 21h do domingo, os atores Pingo Alabarce e Vika Schabbach se revezaram no palco do teatro improvisando e distorcendo tudo o que ouviam na programação da TV Globo. Intitulada A Gente se Vê por Aqui, a performance é dirigida pelo artista e escritor Nuno Ramos e estava prevista para ser encerrada no Jornal Nacional, às 21h de ontem. Como se fosse um reality show às avessas, a atração que estreou nacionalmente no 31º Festival de Arte de Porto Alegre foi transmitida ao vivo pelo YouTube e no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro.
No palco, havia um kit-sobrevivência para os atores: banheiro químico, cozinha, mesa e cadeiras, sofá, colchão. Também havia elementos de academia – saco de pancada, bicicleta ergométrica, um par de halteres e bola suíça –, além de objetos cênicos, como escada, brinquedos e peruca. Enquanto performavam, os atores passeavam pelo cenário, interagiam com objetos, se alimentavam e faziam exercícios físicos.
ATORES DESLOCAM FALAS DA TV
Por meio de fones de ouvidos e dois monitores de televisão – que só os performers podiam assistir –, os atores acompanhavam o que a emissora estava transmitindo em tempo real. Tudo o que escutavam era reinterpretado, mimetizado ou recebia um comentário – fossem programas, telejornais, comerciais e até vinhetas. Por exemplo, durante o Mais Você, a dupla recriava diálogos da apresentadora Ana Maria Braga com Louro José.
Pelo ponto, Nuno realizava alguns pedidos aos atores ao longo da performance. Fora isso, tudo o que acontecia no palco era improvisado.
– Em vez de a vida ir para a emissora, é a emissora que vem para cá. Usamos recursos típicos da televisão como ser ao vivo e 24 horas. As pessoas se submetiam a uma prova até física, de resistência. É um trabalho que opera por deslocamento. Você ouvindo o ator representar aquilo que já é uma representação do lado de lá, mas quase nunca parece ser – explica Nuno Ramos.
Ao serem recriadas, as falas da TV ganham no palco uma representação sarcástica e crítica. Conforme o diretor, a performance expõe aquilo que é naturalmente absurdo na televisão, mas acaba se naturalizando para o público.
– Quando você vê isso representado, fica absurdamente artificial, e percebe que já era artificial. Com o deslocamento, mas usando armas parecidas, você consegue dar um contraste para algo que parece natural – sublinha.
A reportagem de Zero Hora acompanhou a performance às 10h de segunda-feira. Até aquele momento, os atores representavam initerruptamente, sem pausa para descanso.
– Eles estão num pique que não estou acreditando, 13 horas direto – avaliou Ramos.