Iberê Camargo (1914 – 1994) viveu por quase 40 anos no Rio de Janeiro, onde se tornou reconhecido nacionalmente. Mas um passeio pela cidade na sua companhia teria tudo para ser, digamos, incomum. Em 1965, ele escreveu suas recordações: "Zombei do Pão de Açúcar, ri da Baía de Guanabara, criação de um Deus acadêmico, e fui buscar minhas cores nos recantos mais humildes, os que não interessam ao turista nem figuram nos cartões-postais".
A exposição que a Fundação Iberê Camargo (FIC) inaugura neste sábado (11/11), Sombras no Sol, promete mergulhar na experiência do pintor na cidade. Os curadores Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai selecionaram cerca de 40 obras (pinturas, desenhos e gravuras do acervo da FIC), que retratam um Rio melancólico. A inspiração foi outra fala de Iberê: "Há muitas sombras no sol".
– A partir da subjetividade do artista, um dia ensolarado pode se mostrar sombrio. Isso perpassa toda a exposição – diz Possamai, responsável pelo acervo da FIC.
A mostra dialoga com Vivemos na Melhor Cidade da América do Sul, a outra exposição em cartaz na FIC, que também apresenta um Rio alheio aos cartões-postais. Em Sombras no Sol, a maioria das obras mostra cenas urbanas, mas há também retratos, naturezas-mortas e obras abstratas. Entre as curiosidades está um desenho de 1943 que marca a primeira aparição de um ciclista, imagem recorrente na obra do pintor. Em alusão ao noticiário recente, os curadores resgataram recortes de jornal sobre dois episódios de censura: o ataque conservador a uma mostra do Grupo Guignard, do qual Iberê fazia parte, em 1943, e a polêmica em torno da gravura Homem, Mulher e Cabrita, exposta em sala separada no 5º Salão Nacional de Arte Moderna, em 1956.
– O artista revisita um assunto da sua maneira e precisa de liberdade de expressão para isso – afirma Haesbaert, coordenador do acervo da Fundação e também curador da última mostra de Iberê, No Drama. – A outra tinha exuberância de cor e motivos. Esta é diferente, intimista. Olha para a natureza e a figura humana.
Exposição "Sombras no Sol"
- Abertura sábado, às 15h.
- Fundação Iberê Camargo (Avenida Padre Cacique, 2.000).
- A exposição: pinturas, desenhos e gravuras de Iberê Camargo, do acervo da FIC, além de documentos. Curadoria: Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai.
- Visitação aos sábados e domingos, das 15h às 20h. Até 14 de janeiro.
- Entrada franca.
Este final de semana na Fundação Iberê Camargo
Sábado, dia 11
- 15h às 20h - visitação aberta à exposição "Sombras ao Sol"
- 16h - Seminário Sob o sol dos trópicos: "Desvelando as brenhas e seus habitantes fantasma: Dimensões da brasilidade originária", com o professor e etnoarqueólogo José Otávio Catafesto
- 17h - Programação Musical
- 17h às 18h – Coletivo Bronx
- 18h às 20h – 2Brothers
Domingo, dia 12
- 15h às 20h - visitação aberta à exposição "Sombras ao Sol"
- 16h - Cine Iberê - sessão comentada com Gabriela Kremer Motta: Quimera (de Eryk Rocha e Tunga, 15min, 2004, Brasil) e Transeunte (de Eryk Rocha, 2h05min, 2010, Brasil)
- 17h às 20h - #músicamudatudo – Rádio Unisinos na Iberê, com os DJs Porã, Geraldo Oliveira e Rodrigo Brandão
Confira algumas obras da exposição: