Com a proposta de expor apenas arte contemporânea, investindo especialmente em nomes emergentes no Rio Grande do Sul, a galeria Mamute completa cinco anos em 2017. O período foi suficiente para colocar a casa entre as mais importantes no circuito da Capital, por isso a comemoração é marcada pela exposição Do Abismo e Outras Distâncias, que abre nesta quinta-feira (9/3), às 20h. A visitação da mostra, no antigo casarão da Rua Caldas Júnior, 375, começa nesta sexta-feira.
Incumbida da curadoria, a pesquisadora Bruna Fetter recebeu apenas um pedido: incluir todos os 18 artistas representados pela galeria. Deparou com um universo variado de obras, abrangendo técnicas como vídeo, fotografia, instalação, pintura e desenho. O jeito foi costurar aproximações entre os trabalhos sem suprimir diferenças. É um exercício que, segundo Bruna, tornou-se também uma resposta a debates atuais que extrapolam as fronteiras da arte, como a difícil convivência entre opiniões e crenças distintas. A inspiração veio das timelines que mostram apenas o que queremos ver, da viralização de notícias falsas, da intolerância dos muros que, para a pesquisadora, transformam fronteiras em abismos.
– A exposição é uma metáfora para as relações humanas. A arte tem um papel de sensibilização: pode construir pontes, facilitar diálogos. O que te dá arrepio, te toca, pode fazer tu olhares de forma diferente para algo e tornar o diferente menos distante – reflete a curadora.
Uma sala reúne trabalhos com fotografias que sofreram interferências acenando para discussões sobre manipulação e o conceito de "pós-verdade". São imagens que enganam o olho, como o registro de Marília Bianchini em que um bem-te-vi torna-se vários. As fotografias da série Vulto, de Fernanda Gassen, também requisitam um segundo olhar. A autora extraiu figuras humanas de paisagens, preenchendo os vazios com desenhos realísticos. A passagem do tempo é outro tema comum, que une as fotos de Fernanda às pinturas de Frantz e Emanuel Monteiro e ao vídeo de Bruno Borne.
– O que mais grita é a diferença entre as obras. Por isso busquei aproximações formais. A exposição tem vários pequenos diálogos e alguns ruídos – pontua a curadora.
A maioria dos trabalhos é inédita e, em muitos casos, feita especialmente para a mostra. Foi uma maneira de comemorar a trajetória da galeria falando do presente, afinal, a Mamute sempre voltou-se para a produção contemporânea. Quando surgiu, em agosto de 2012, era dedicada ao vídeo e à fotografia. A proposta pouco comercial foi abandonada após dois anos, mas já revelava o desejo de contribuir para o desenvolvimento do meio artístico local. A proprietária Niura Borges engajou-se na promoção de cursos de profissionalização sobre o mercado da arte, da Gallery Night e da criação do Mapa das Galerias de Porto Alegre. Também faz questão de valorizar artistas com pesquisas acadêmicas.
– A galeria tem esse papel de profissionalizar artistas. Para o meio, serve como um estímulo, um exemplo do que dá certo – analisa Niura.
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Do Abismo e Outras Distâncias
Abertura quinta-feira (9/3), a partir das 20h.
Visitação de sexta até 28 de julho.
Galeria Mamute (Rua Caldas Júnior, 377, galeria 2, fone 51 3286-2615, centro de Porto Alegre).
A exposição: em comemoração pelo aniversário de cinco anos do espaço, a galeria apresenta obras dos 18 artistas integrantes do seu elenco: Antônio Augusto Bueno, Bruno Borne, Claudia Barbisan, Claudia Hamerski, Clovis Martins Costa, Dione Veiga Vieira, Emanuel Monteiro, Fernanda Gassen, Frantz, Hélio Fervenza, Hugo Fortes, Grupo Ío, Letícia Lampert, Marília Bianchini, Mariza Carpes, Pablo Ferretti, Patrícia Francisco, Sandra Rey.