A Igreja Sagrado Coração de Jesus – conhecida popularmente como Igreja do Porto, por estar localizada próxima ao porto (atualmente desativado) às margens do canal São Gonçalo, em Pelotas – foi tombada como patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. O tombamento deverá ajudar a captação de verba de R$ 1,4 milhão, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC-RS), para a conclusão do restauro do templo, que foi severamente abalado por um ciclone em julho de 2020.
No início do século passado, Pelotas contava apenas com uma paróquia, a de São Francisco de Paula. Em 1º de novembro de 1912, foi criada a do Sagrado Coração de Jesus. A igreja começou a ser erguida em 1915 para receber a população que vivia no bairro Porto – com perfil industrial nas primeiras décadas do século 20, hoje a região é núcleo de jovens universitários, depois que a Universidade Federal de Pelotas incorporou boa parte dos prédios industriais históricos.
O projeto da igreja – de arquitetura eclética, que combina matizes barrocos e romanos – é do paulista Frederico Sonnesen. Embora ela tenha sido inaugurada já em 1916, os trabalhos tiveram prosseguimento nos anos seguintes, com a colocação dos alicerces da frontaria, do guarda-vento com vitrais e de três sinos produzidos em uma fundição de São Paulo. O término da pintura e da decoração interna ocorreu apenas em 1925, considerado o ano de conclusão da obra.
Com uma torre de 40 metros de altura, a igreja foi considerada por muitos anos o edifício mais alto de Pelotas. Em seu interior, guarda símbolos da herança portuguesa, como os afrescos e escariolas (acabamento que imita mármore polido, aplicado em paredes ou pilares), além da imagem do Sagrado Coração de Jesus. Uma curiosidade é que nela foram gravadas algumas cenas do filme Concerto Campestre, de Henrique Freitas Lima, baseado na obra do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, que foi lançado em 2004.
O processo de restauro da edificação – já tombada em nível municipal desde 2020 – teve início um mês depois do ciclone e está na segunda fase, marcada pelo salvamento estrutural da igreja com a finalidade de mantê-la em pé – atualmente, ela se encontra escorada. As etapas seguintes compreendem a recuperação da cobertura e a restauração do piso e das paredes do altar (com pintura original), além da revitalização da área externa e do acesso principal, com a instalação de escada adaptada a pessoas com dificuldades de locomoção.
Para a secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araújo, o tombamento é um ato que envolve fé, história, arquitetura, arte, patrimônio cultural e união da comunidade pelotense em torno do propósito de preservar a edificação de grande valor.
– Assim como a comunidade de Pelotas, o Rio Grande do Sul reconhece o grande valor patrimonial e simbólico desse templo religioso tão identificado com a paisagem da cidade e que agora é tombado também na instância estadual – conclui a secretária.