Quem passou pela Rua Duque de Caxias nos últimos dias deve ter notado que o Museu Julio de Castilhos está de portas fechadas. Mas não há com o que se preocupar. O prédio está sendo preparado para a comemoração dos 120 anos desta que é a primeira instituição museológica do Estado. A reabertura vai acontecer no próximo dia 30 de janeiro (data de aniversário do museu), com a inauguração da exposição Aos 120 – Nossa história.
Em seu livro A Velha Porto Alegre (Editora Canadá, 2008), Sérgio da Costa Franco exalta o valor histórico do solar, que serviu de residência para Julio de Castilhos, principal líder republicano do Rio Grande do Sul. O historiador destaca também o significado arquitetônico do prédio, “um dos últimos testemunhos da moradia nobre oitocentista”, além de representante de “uma linguagem neoclássica tornada rara no acervo predial” da Capital. Foi construído, em 1887, pelo general Catão Roxo, herói da Guerra do Paraguai, para morar com a família, e dado de presente a Julio de Castilhos pelo Partido Republicano Rio-Grandense, 11 anos depois.
Para pagar 120 contos de réis ao antigo dono – preço que incluía a mobília e a cocheira nos fundos do terreno, com acesso pela Rua Fernando Machado –, os republicanos promoveram um movimento público de coleta de fundos. A justificativa foi a de que Julio de Castilhos estava prestes a deixar o poder com as finanças pessoais abaladas e, além disso, não tinha onde morar em Porto Alegre. Ele viveu ali até o ano de sua morte (1903). Pouco depois, a família sofreu novo abalo, com o suicídio da viúva, Honorina, praticado em um dos quartos do casarão.
Em 1905, o solar foi adquirido pelo governo de Borges de Medeiros, herdeiro político de Castilhos, para abrigar o Museu do Estado, que havia sido criado dois anos antes, tendo como primeira sede dois pavilhões da 1ª Exposição Agropecuária e Industrial, nos Campos da Redenção. Em 1907, já instalado na Duque de Caxias, passou a se chamar Museu Julio de Castilhos. Mais tarde, a casa ao lado foi agregada para aumentar o espaço reservado ao acervo, hoje composto por cerca de 10 mil itens, incluindo verdadeiras relíquias, como a sela de montaria do presidente Deodoro da Fonseca quando passou a tropa em revista na abertura da Constituinte de 1891, além de armas, lanças e espadas usadas na Revolução Farroupilha.
Além de peças já conhecidas, como a carruagem de Carlos Barbosa, que governou o Estado de 1908 a 1913, e as botas tamanho 58 de Ângelo Guerreiro, o “gigante gaúcho” (que tinha 2m18cm de altura), a exposição Aos 120 – Nossa história vai trazer muitas novidades. Entre elas, bilhetes de caráter pessoal escritos por Julio de Castilhos para amigos e personalidades, que nunca haviam sido trazidos a público. Em destaque, também estarão 120 itens recentemente doados pela família de Borges de Medeiros, como o sinete usado para selar cartas e louças com as iniciais do líder republicano. Mas a maior atração será a retomada da entrada principal do prédio, cujo hall foi totalmente restaurado a partir do Programa Avançar na Cultura, do governo estadual, o que permitiu a restituição de suas pinturas decorativas, que estavam ocultas sob cinco camadas de tinta e texturas.
“Para muitas pessoas, será a primeira oportunidade de conhecer o acesso da casa histórica como era originalmente, já que, ao longo de 120 anos, o espaço tinha sido totalmente descaracterizado”, afirma Doris Couto, diretora do museu. A comemoração do dia 30 terá, ainda, o lançamento online do catálogo de restauros realizados nos últimos dois anos, além de um show acústico de voz e violão com Antônio Augusto Albuquerque e Mestre Maraguaia interpretando Lupicinio Rodrigues nos jardins do velho casarão.