O ano de 1953 é a data de inauguração do trecho da BR-101 entre Osório e Torres. A estrada foi aberta “entre altos contrafortes da Serra do Mar e extensas lagoas”, percorrendo uma “vasta região de fertilidade exuberante, até então completamente isolada do resto do Estado” – como destacou, à época, o vídeo de divulgação do Daer, dirigido por Salomão Scliar.
Apesar de várias pontes já finalizadas, como a que passava sobre o Rio Cardoso, em Três Cachoeiras, persistiam trechos em que a travessia tinha que ser feita por balsas. A opção era se deslocar pela praia, ao som das batidas das ondas na areia. Só que, neste caso, a viagem dependia da maré e das condições climáticas. Menos mal que, para que os veículos ultrapassassem os cômoros, eram colocadas esteiras gigantes. Mesmo assim, atolar era algo bastante comum, até por descuido do motorista ao passar por trechos mais “moles” da areia da praia.
Nada disso tirava o charme das férias de verão no Litoral Norte, como demonstram as recomendações aos veranistas feitas pela Revista do Globo, em sua edição de 10 de janeiro de 1953. O artigo assinado por Sylvia Simone e ilustrado com fotos de “brotinhos” de Torres e Capão da Canoa estabelecia os mandamentos para que o veraneio fosse um “oásis de repouso, despreocupação e alegria”. A primeira dica era deixar as inquietações fora da mala a fim de impregnar-se de um espírito que permitisse abandonar toda e qualquer preocupação.
Para começar, a sugestão era um passeio do centro de Torres até o Rio Mampituba, na divisa com Santa Catarina. Mas, atenção: “não se esgote em excursões demoradas e bailes até a madrugada. Isto é um contrassenso. Lembre-se de que o repouso físico condiciona o mental e não deixe de observar períodos regulares de descanso durante o dia”. Fiel ao lema “mente sã, corpo são”, a jornalista observava que “banhos de mar constituem ótimo exercício, assim como passeios vagarosos nas horas menos quentes aumentam o apetite e estimulam o metabolismo”.
Naquele tempo, filtro solar não era tido como artigo de primeira necessidade. Então, “a não ser que tenha a pele muito resistente, não ande ao sol com as costas e as pernas descobertas, nos três primeiros dias do veraneio. O sol que apanhar depois do banho de mar será suficiente. Depois, exponha-se gradativamente”. Era recomendável ainda livrar-se dos excessos de fumo, álcool, doces e condimentos, bem como escolher roupas leves e confortáveis. “Joias pesadas, cintos apertados e sapatos fechados aumentam o calor e causam perturbação”.
Outra coisa: a tagarelice deveria ser evitada a qualquer custo. Afinal, “conversar demais gasta energia. Uma vez por dia, afaste-se do bulício e, no seu quarto, jardim ou na praia, fique em silêncio, pensando em nada, fazendo nada”. Para colocar em prática essa orientação, “escolha com cuidado as pessoas com quem vai conviver durante o veraneio, veja se têm as mesmas ideias quanto a diversões, horário de descanso, alimentação etc. Se vai como hóspede, pense bem se deseja se submeter ao regime dos donos da casa. Em caso contrário, mude de planos”.
Sem dúvida, muitos dos mandamentos do veraneio de 70 anos atrás caíram em desuso – já dizia o poeta, o tempo não para. Mas a conclusão da reportagem da Revista do Globo traz uma verdade eterna: “Cultive a alegria, fuja do que puder causar aborrecimento, procure encontrar motivo de prazer no que lhe acontecer. A alegria é o melhor tônico para os nervos, desintoxica, revigora, revitaliza”.
Ou, em bom português:
“Vire-se do avesso!”.