Em todas as cidades plantadas na beira de um rio, é comum haver uma doca na qual se estabelece um mercado flutuante formado por embarcações que trazem, do Interior, produtos in natura, especialmente frutas e legumes. Porto Alegre já foi assim – os mais antigos lembrarão. No passado, lá pela década de 1960, recordo que nessa época do ano (entrada do inverno), um dos programas dos finais de semanas preferido do meu pai era uma visita à doca das frutas, no porto, em plena Avenida Mauá junto ao prédio do Palácio do Comércio. Claro, não havia o muro, o mercado livre ainda funcionava e até a pequena – e lindinha – estação ferroviária Ildefonso Pinto ainda ornamentava com aquela parte do começo da Avenida Borges de Medeiros.
Pranchas de madeira uniam a escadaria da doca aos barcos abarrotados com suas cargas de laranjas e bergamotas. Nos equilibrávamos sobre elas para ter acesso ao que buscávamos. A fartura e os preços camaradas permitiam que o volume comprado fosse tratado por “cento”. Um cento (100) ou meio cento (50) eram as quantidades mais adquiridas pelos ávidos consumidores.
Com a chegada do Muro da Mauá e, antes, da Ditadura – que decretou a área portuária como sendo de segurança nacional –, os porto-alegrenses foram apartados do convívio com o Guaíba no centro histórico da Capital.
Ainda na primeira metade dos anos de 1960, foi criado um entreposto para a venda de frutas e verduras, localizado sobre a parte já concluída do aterro junto aos primeiros blocos de apartamentos construídos em cima do terreno conquistado que, antes, era rio. Esse mercado provisório esteve instalado, por alguns poucos anos, próximo de onde hoje se encontra o Corpo de Bombeiros e o edifício do Instituto de Previdência do Estado, enquanto, entre 1970 e 1974, era construída a Ceasa, no bairro Anchieta. Nessa época, alguns barqueiros atracavam ali perto, na margem do Guaíba.
Removido o mercado provisório, os comerciantes de laranjas e bergamotas resistiram e acabaram se transferindo, um pouco mais tarde, para mais longe, nas imediações do Estádio Beira Rio. Ali, sobre a área ainda não urbanizada do aterro, foram montadas algumas bancas que, eventualmente, eram abastecidas através do rio. Os automóveis dos clientes estacionavam diante das barracas e deixavam o local com o porta-malas repleto de frutas cítricas, abóboras e outros alimentos naturais.