“Grande multidão, estampando a mais viva satisfação, aguardava na Estaçãozinha da Tristeza a chegada triunfante da formidável locomotiva que marcaria uma nova era de progresso para o lugar. Pouco antes do meio-dia, num domingo desses meados de janeiro do primeiro ano do século (20), máquina arrastando quatro vagões, atopetados de gente, apitava buliçosa ao penetrar na imensa várzea, ao norte, antes de cruzar o povoado, anunciando a sua pomposa vitória de velocidade e rapidez.”
Assim, o cronista Ary da Veiga Sanhudo descreveu a chegada, pela Ferrovia do Riacho, do trenzinho ao arrabalde da zona sul da Capital. Era evidente o crescimento da região, cada vez mais procurada pelos habitantes da cidade em busca de opções de saudável recreio.
Por volta de 1908, quando os primeiros bondes elétricos passaram a circular, artigos na imprensa chegaram a cogitar que a Linha Teresópolis fosse prolongada até a Tristeza, com o claro intuito de ser esta uma alternativa à linha ferroviária que servia aquele subúrbio. A justificativa era de que, com três viagens diárias no verão e duas no inverno, a ferrovia não atendia a necessidade crescente do elevado número de passageiros para a Zona Sul, com notável desenvolvimento, incrementado ainda mais após a implantação do trenzinho.
É oportuno lembrar que o acesso rodoviário para a Tristeza se dava passando pelos bairros Azenha e Teresópolis, e não pela costa do Guaíba, por meio do Menino Deus e do Cristal. Naquela época, para se deslocar a outros locais distantes, havia o serviço de transporte por diligências, como no velho oeste americano. A Vila de Viamão, por exemplo, era servida por uma empresa particular de diligências que fazia três viagens por semana no verão e uma única semanal no inverno.
Já na primeira década do século 20, podia ser observada a atração que os balneários exerciam sobre os moradores mais abastados da Capital. As condições insalubres do Centro e a falta de infraestrutura urbana motivavam os habitantes a buscar alternativas, principalmente nas férias. As praias de mar do Litoral ainda eram quase inacessíveis, com viagens penosas e demoradas.
As opções mais comuns de veraneio eram as chácaras arborizadas das vizinhas cidades ao norte (como Canoas), que eram servidas por rodovia precária e também por ferrovia. A partir da instalação da Ferrovia do Riacho, os porto-alegrenses que tinham condições econômicas puderam passar os finais de semana (ou até mesmo os meses de veraneio) às margens do Guaíba, na Tristeza e arredores.
Fonte: livro A Ferrovia do Riacho – Do Sanitarismo à Modernização de Porto Alegre, de André Huyer.