
Em 1912, não havia relógios de rua que pudessem indicar a hora certa para a população, muito menos celulares ou computadores com horários eletrônicos de referência para quem quisesse se situar no tempo. Mas uma lâmpada encarnada postada sobre a abóboda de telhas metálicas do torreão do Ginásio Júlio de Castilhos — imponente palácio construído em estilo renascentista, defronte à antiga Praça Independência (atual Praça Argentina) — orientava os transeuntes.
Pontualmente, a lâmpada vermelha se acendia às 19h55min para se desligar cinco minutos depois. Pronto: o apagar da luz era o sinal inequívoco das 20h em Porto Alegre. Em 1918, foi colocada uma segunda lâmpada no Paço Municipal e, alguns anos depois, outras duas no edifício da Confeitaria Rocco e na Casa Masson. Até a Segunda Guerra Mundial, era esse o sistema público de informação da hora certa em vigor na Capital.
Por trás da engenhosa tecnologia, que tinha como base equipamentos importados da Europa, como relógios astronômicos, estava o trabalho dos técnicos de uma das instituições científicas mais antigas do país — o Observatório Astronômico da UFRGS (na época, denominado Instituto Astronômico e Meteorológico), inaugurado em 24 de janeiro de 1908. Inicialmente, o serviço não estava funcionando muito bem, o que levou a direção do observatório a contratar o astrônomo alemão Frederico Rahnenfuhrer. Ele veio com a tarefa de ajustar os instrumentos de modo a permitir a determinação de acertar os relógios com precisão de 0,03 segundos, o que foi feito, pela primeira vez, em 23 de setembro de 1912.
Além de fornecer a hora e implantar estações meteorológicas no interior do Estado, o Observatório Astronômico surgiu com a função de oferecer apoio às atividades didáticas da Escola de Engenharia. Construído dentro de área inserida no atual campus central da UFRGS, que havia sido ocupada por dois pavilhões na Grande Exposição Agropecuária de 1901, o prédio é um dos modelos mais bem-acabados do estilo arquitetônico art nouveau em Porto Alegre. Foi restaurado em 2002, após ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A partir de 1970, o Observatório Astronômico passou a desempenhar o papel de órgão auxiliar das atividades de ensino e pesquisa do Instituto de Física da UFRGS. Atualmente, é também um museu de astronomia, com acervo que inclui relógios de pêndulo, teodolitos e barômetros, além de pequenas lunetas. Na fachada frontal, aparece, em tamanho natural, a estátua de Urânia, musa da Astronomia.
No segundo andar, está a belíssima pintura mural que representa Cronos, o Deus do Tempo. Mas a principal atração é a Luneta Equatorial Gautier, trazida de Paris em 1908 para se posicionar junto à cúpula da edificação a fim de permitir a observação de planetas, estrelas duplas e crateras da Lua (hoje, no terraço, há também um telescópio eletrônico para o trabalho de observação do firmamento).
Atualmente, além de local que permite observar as estrelas, o Observatório Astronômico da UFRGS é um espaço de difusão do conhecimento e preservação da memória da astronomia. Antes da pandemia, com entrada franca, promovia visitas, palestras e oficinas (infelizmente, as atividades presenciais estão suspensas no momento por causa da covid-19), honrando a vocação de prestar serviços à comunidade, como já fazia em 1912, quando fornecia a hora certa para que os porto-alegrenses pudessem acertar seus relógios.