A história de Cazuza Ferreira, distrito de São Francisco de Paula (distante 122 quilômetros da sede do município), confunde-se com a trajetória do antigo Hotel Avenida. Nas décadas de 1950 e 1960, além de receber hóspedes, a construção de madeira abrigava também o Cine Serrano. A sala de exibição mostrava, principalmente, fitas de comédia e bangue-bangue, animando a vida social e cultural da pequena localidade, hoje com 1,2 mil habitantes.
As recordações dos tempos do Cine Serrano estão registradas no livro Memórias de São Francisco de Paula, publicação da prefeitura do município, com distribuição gratuita em escolas e bibliotecas da cidade, situada a 113 quilômetros de Porto Alegre. A versão online está disponível no site da prefeitura. A edição é da jornalista Lúcia Pires, chefe do Departamento da Cultura da Secretaria de Turismo, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula.
O livro faz parte de projeto homônimo de educação patrimonial financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul. As atividades foram documentadas em vídeo, resultando também na produção de três minidocumentários. Conforme os promotores, o conjunto de iniciativas contribui para democratizar o conhecimento sobre os bens materiais e imateriais, além de estimular a participação das pessoas nas ações de proteção e conservação patrimonial.
Em 14 de março do ano passado — poucos dias antes da alteração da rotina de todos nós, provocada pela epidemia de covid-19 — foi promovida uma Roda de Memória no Hotel Avenida (hoje Hotel do Campo). O bate-papo trouxe à tona as lembranças de Iró Beatriz Basso Gomes, filha do proprietário do antigo hotel e cinema, Antonio Machado Basso.
Ela falou sobre o brilho nos olhos de seu pai durante as sessões e o longo percurso dos filmes até chegarem ao Cine Serrano (vinham pelas linhas de ônibus comuns que atendiam ao distrito). Por causa da pandemia, as edições seguintes das Rodas de Memória — acerca do Hotel Cavalinho Branco e do Lago São Bernardo, além da Escola Estadual José de Alencar, que completou cem anos em 2019 — foram realizadas em formato online.
Os moradores de São Francisco de Paula são os protagonistas do resgate dessas memórias, por meio de depoimentos reproduzidos no livro. A obra conta também com a contribuição dos arquitetos Luiz Antônio Custódio, Cristhie Lenz e Renata Galbinski Horowitz, da geógrafa Marcia dos Santos Ramos Berreta, do historiador Nathan Camilo e da professora de História Cláudia Santos Duarte. Memórias de São Francisco de Paula apresenta ainda os primeiros registros do Inventário Cultural do município. Iniciado em 2017, o levantamento foi realizado com a participação da comunidade e a cooperação técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), reunindo até agora mais de 70 bens edificados.