O texto a seguir é uma colaboração do jornalista Inácio Knapp. Inácio, assim como Beatriz, colecionadora de etiquetas que também foi tema do Almanaque, vem aproveitando a quarentena para “furungar” gavetas e mexer em sua coleção de caixas de fósforos. Muitas delas são de clubes de jazz, paixão do colecionador. Aproveito a carona para exibir algumas caixinhas que também guardo há muito tempo. Afinal, o momento atual pede visitas ao passado, já que aquelas do presente precisam ficar para depois.
“Acredito que todos nós colecionamos alguma coisa em nossas vidas. Esses dias são ideais para recordar isso. E furungar esconderijos em casa. Tirar o pó. Eu me lembro da minha primeira coleção: carteiras de cigarros. Vazias, é claro. Acho que tinha 11, 12 anos. Anos 1960. Andava pelas ruas do bairro Floresta (na Capital) e recolhia, do cordão das calçadas, carteiras amassadas. Quase todo mundo fumava. E muito. E jogavam as carteiras em qualquer lugar. Muitas vezes, eram pessoas de fora da cidade. Fumantes de então não se preocupavam com isso, dessa coisa de limpeza. Na verdade, quase ninguém se importava com uma cidade limpa.
Certo dia, pensei que seria possível ter carteiras novas, direto da fábrica. Com o tempo, e tendo ganho a minha primeira máquina de escrever – era usada e preta – resolvi escrever para as fábricas de cigarro, contar da minha coleção e pedir embalagens novas. Quando chegou o primeiro envelope com uma cartinha de alguém da fábrica e as embalagens novíssimas, eu não acreditei. Uma grande emoção. Em seguida, ganhei um livrão enorme, usado, ideal para por entre suas páginas a minha coleção que não parava de crescer. De carteiras amassadas e novas. Era um livro enorme, pesadão, de ter que abrir em uma mesa. A coleção ali ficava perfeita.
Comecei a ousar e escrever cartas a fabricantes americanos. Eu adorava o idioma inglês e fui praticando naquelas cartas, que também guardava no livrão. E fui recebendo envelopes e envelopes com muitas marcas de cigarro que eu nem sabia que existiam.
Depois de um tempo, com uma coleção impressionante, a febre por aquela mania passou. Mas surgiram outras e, num desses dias de confinamento, achei parte da minha coleção de caixinhas de fósforos.
Você consegue imaginar uma companhia aérea te dar, como pequeno brinde, uma caixinha de fósforos? E para você acender seu cigarro dentro do avião? Voando? Você e outros passageiros fumantes? E o cinzeiro estar embutido no braço do assento? Pois isso aconteceu comigo em 1980, em uma viagem para os Estados Unidos. Tinha até cardápio, que guardo até hoje. A caixinha vou procurar.
Aliás, foi a partir desta viagem que comecei uma coleção. Não foram muitos anos e nem algo disciplinado. Juntei algumas, principalmente de casas de jazz, onde a fumaça fazia parte do cenário. Fogo, por favor.”