Paixão Côrtes (1927-2018), ao lado de Barbosa Lessa (1929-2002), desenvolveu um notável trabalho de garimpagem folclórica junto ao autóctone homem do campo por perdidos rincões do Rio Grande do Sul ao longo de quase 50 anos. Esse trabalho resultou em inúmeras publicações e gravações de discos abordando costumes, as músicas e as danças do folclore gaúcho. Coletou e reconstituiu, em suas pesquisas, mais de 70 danças e recuperou informações sobre o rico vestuário da sociedade campeira da terra farroupilha.
A primeira gravação de Paixão Côrtes, ainda no período dos discos de 78 rpm (78 rotações), tinha a música Jacaré em um lado e Chotes Careirinho do outro. Isso aconteceu em 1957 e foi um grande sucesso, permanecendo, por alguns meses, entre os discos mais vendidos.
A imensa popularidade de Jacaré levou um consagrado cartunista do hoje extinto jornal Diário de Notícias, da Capital, a representar o folclorista numa ilustração em que ele aparece gineteando o animal que dá nome à canção. A charge foi reproduzida amplamente em revistas e periódicos no final da década de 1950.
Na contracapa do primeiro LP de Paixão Côrtes, Folclore do Pampa, de 1962, Barbosa Lessa escreveu: “Numa época em que proliferam discos de tema gaúcho, executados por ‘duplas’, uma contradição dentro da música rio-grandense, eternamente individualista e interpretada por cantor solista ou executada por ‘conjuntos vocais’, uma meritória forma de enriquecer a simplicidade do folclore rural, há de, necessariamente, ganhar relevo este documentário em que a instrumentação típica, a harmônica autêntica (gaita), a ‘rabeca’, o violão, o modo e o timbre de interpretação vocal, tudo isso é salvaguardado com o mais atento carinho”.
Jacaré
(Chotes, recuperado e adaptado por Paixão Côrtes)
Jacaré, jacaré, jacaré
Não fui eu que roubei tua “muié”
Tudo é, tudo é, tudo é
Capivara, bicho feio jacaré
Mais quem é, mais quem é, mais quem é,
Mais quem é, que roubou tua “muié”
Isto é, isto é, isto é
Brincadeira com o pobre do jacaré