O Esporte Clube Cruzeiro foi fundado no dia 14 de julho de 1913. Em março de 1941, a agremiação esportiva inaugurou o maior e mais moderno estádio de futebol da capital gaúcha, o Estádio da Montanha, vencendo o São Paulo, por 1 a 0, em uma partida assistida por quase 20 mil vibrantes torcedores.
Em novembro de 1970, 29 anos depois, houve a última partida de futebol na chamada Colina Melancólica. O clube havia vendido o estádio para que ali fosse construído o Cemitério Ecumênico João XXIII. O projeto previa a instalação de 18 mil túmulos, número um pouco menor do que a capacidade máxima de espectadores experimentada no dia do jogo inaugural.
Na partida de despedida, o time venceu o Liverpool, do Uruguai, por 3 a 2. Duas evidências teriam levado a direção a tomar a decisão de vender a área. Se, por um lado, a quantidade de torcedores que compareciam ao estádio vinha diminuindo, a falta de lugares, na cidade, para acomodar os mortos vinha aumentando.
Segundo especialistas, o agravamento dessa situação se mostrava inexorável. A superlotação dos oito cemitérios de Porto Alegre e a inexistência de locais que pudessem atender as necessidades da Capital fizeram com que a municipalidade recomendasse a assinatura de contratos de locação temporária, e não mais perpétua. Pois, conforme a tendência identificada, dentro de 10 anos estava previsto um “déficit” aproximado de 80 mil sepulturas, considerando-se o aumento populacional.
A proposta era que fossem feitos quatro blocos de três andares cada. Estes andares conteriam, por unidade, quatro fileiras de jazigos, formando um total de quase 18 mil sepulturas. Conforme reportagem da época, e segundo o chefe de vendas da firma que estava comercializando os títulos do empreendimento, Amauri Soares, “em cinco anos, os cemitérios porto-alegrenses não terão mais capacidade ociosa e teremos que enterrar nossos mortos em Guaíba ou Viamão”.
Além do aspecto da valorização dos terrenos nas metrópoles, Soares apontava, também, para razões jurídicas, afinal, “a lei manda que se sepulte, mediante controle civil, em locais pré-determinados e morais. A morte é o único vaticínio certo que se pode fazer quando nasce alguém, pois é inerente à vida”, dizia ele.
Como “tudo o que é sólido desmancha no ar”, o Estádio da Montanha não escapou da máxima. Na última vez, aos 44 minutos do segundo tempo, Arlen avançou pela direita, bateu seu marcador e chutou forte. O goleiro uruguaio nada pôde fazer. O Cruzeiro conseguiu o seu terceiro gol e ganhou o jogo. A bola foi dormir no fundo das redes. Logo depois, o estádio foi demolido e a colina ficou mais melancólica ainda.
No ano passado, foi inaugurada a Arena Cruzeiro, o novo estádio do clube, que fica em Cachoeirinha e tem capacidade prevista para 16 mil pessoas.